Eles atuam nos bastidores. São profissionais da saúde que, na base da conversa e da confiança, ajudam médicos, pacientes e familiares em momentos difíceis, na tomada de decisões que podem significar a vida ou a morte. E eles são pioneiros.
Neste mês, o primeiro Comitê de Bioética do Brasil, fundado em novembro de 1993 no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), completa 30 anos. O grupo soma 6,3 mil consultorias realizadas e já ajudou a disseminar a iniciativa em outras instituições do país.
A ideia ganhou forma na virada dos anos 1980 para os 90, quando um salto tecnológico passou a revolucionar a medicina. Com cada vez mais opções terapêuticas na mesa, ampliaram-se também os contatos entre especialistas, os doentes e suas famílias.
Em 1988, na PUCRS, o filósofo Joaquim Clotet tornou-se o primeiro professor de Bioética do Brasil. Em 1992, o médico Carlos Fernando Francesconi, da Faculdade de Medicina da UFRGS, voltou empolgado de um curso sobre o tema em Washington, nos Estados Unidos. A partir dali, as coisas se desenrolaram.
— Ficamos um ano estudando e nos preparando — recorda José Roberto Goldim, que participou do movimento e hoje preside o comitê, com 28 integrantes.
O órgão tem um núcleo clínico, que atua no dia a dia. São seis consultores: três psiquiatras (dois deles residentes), uma enfermeira, um neonatologista e Goldim, um dos maiores especialistas brasileiros na área, além de uma advogada. Eles estão 24 horas por dia disponíveis, sempre prontos a atender o chamado de colegas em circunstâncias complexas.
Por exemplo: casos de famílias com problemas de relacionamento e opiniões divergentes sobre os rumos de um paciente, enfermos que querem desistir de tratamentos, situações envolvendo crenças religiosas, conflitos na pediatria entre pais separados e famílias agressivas com as equipes de cuidado.
— Lidamos com os sentimentos humanos mais profundos, em um ambiente onde aflora tudo — resume Goldim.
Com paciência, empatia, capacidade de escuta e preparo, eles agem como mediadores. Pouco a pouco, tornaram-se fundamentais.