Talvez você se lembre. Em um passado nem tão distante, tudo o que estragava na casa da gente era enviado para o conserto. TV, secador de cabelos, geladeira, aparelho de som. Tudo. Nada se jogava fora antes de, ao menos, tentar reparar o dano, remendando, colando, soldando, às vezes até improvisando. Eram outros tempos.
Hoje, se um equipamento para de funcionar, muitas vezes não vale mais a pena, pelo alto custo, nem mesmo mandar arrumar. Há casos em que isso simplesmente deixou de ser possível, devido a novas políticas adotadas por grandes fabricantes.
Não se faz mais o conserto de pequenas peças com defeito: elas são trocadas inteiras. Se você tem uma máquina de lavar roupas dessas de última geração, prepare-se: se um dia ela avariar, como aconteceu comigo, provavelmente, vão lhe dizer que será preciso substituir o bojo todo - mesmo que o problema seja pontual. Na maioria das vezes, acaba sendo “melhor” comprar uma nova.
Melhor para quem mesmo?
Em setembro, o jornal El Pais publicou a história de um colombiano chamado Wilmer Becerra, que ficou conhecido por “desafiar” a gigante Apple ao ensinar, em vídeos, a consertar iPhones, iPads e iMacs.
A notícia repercutiu em diferentes jornais, inclusive no Brasil (a Folha de S.Paulo acaba de abordar o caso, em nova matéria), porque o engenheiro foi notificado extrajudicialmente pela empresa. Ele tem mais de 10 milhões de seguidores nas redes e se defendeu junto à Apple, mencionando a tese do “direito ao reparo”, que vem ganhando força em países da Europa e nos Estados Unidos.
A discussão por trás desse tema é a seguinte: garantir que a vida útil de um aparelho possa ser prolongada não seria uma medida mais benéfica ao mundo? Com a produção cada vez maior de itens com vida útil pré-definida, não estamos colaborando para o acúmulo de lixo eletrônico no planeta? E onde fica o direito do proprietário?
Anote aí: esse debate, em algum momento, vai ganhar força também no Brasil. E que bom se for assim.