Faz 69 anos que o ritual se repete, mas, no fim da tarde de hoje, será mais do que mera formalidade. Quando o patrono Tabajara Ruas receber a chave oficial e tocar o sino, anunciando a abertura da nova edição do mais tradicional encontro literário do Rio Grande do Sul, a Feira do Livro de Porto Alegre terá vencido a burocracia.
Foi um sufoco, até o último minuto. Em 2023, pela primeira vez, o Conselho Estadual de Cultura negou apoio ao evento via lei de incentivo. Com critérios técnicos equivocados, a comissão desprezou a importância de uma festa que, há muito, extrapola as fronteiras da Capital.
Não houve recuo nem retratação pelo erro, mas houve mobilização. A feira foi abraçada pelos gaúchos, e o dinheiro que faltava foi obtido graças a aportes públicos e privados.
Até a véspera da abertura, Max Ledur, presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, responsável pela organização, corria atrás dos últimos apoios.
No fim das contas, a sensação que fica é de que o evento - apesar de tudo - volta mais forte, renovado por um sentimento que não se via há tempos.
Em meio a tantos dissabores no mundo, aos absurdos das “redes antissociais” e aos maus exemplos de “desinteligência artificial”, é um bálsamo saber que ainda tem gente interessada em livros. E não só neles, mas também no ambiente que faz da Praça da Alfândega um lugar único nessa época, um ponto de encontro e de resiliência.
“Quem lê, sabe o caminho”, diz o slogan da festa quase setentona, que segue até o dia 15 de novembro com 110 estandes, mais de 630 sessões de autógrafos, 155 palestras e 15 oficinas de escrita e literatura. Apareça. A feira é sua. É nossa.