Ela foi a primeira mulher a comandar a Cadeia Pública de Porto Alegre, nas seis décadas de existência do antigo Presídio Central. Natural de Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo, a major Ana Maria Hermes tornou-se, também, a última PM a exercer o cargo, até a troca de guarda da prisão, no fim de agosto. Agora, ela ocupa uma nova função no Comando Rodoviário da Brigada Militar.
Formada em Direito na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), a oficial tornou-se diretora da casa prisional mais temida do Brasil em julho de 2021, depois de ter atuado em diferentes funções lá dentro. Assumiu a posição de chefia com o sonho de estimular a profissionalização dos presos, como um caminho para a ressocialização. Fez mais do que isso.
Além de encerrar a missão com 300 apenados diplomados pela primeira vez na vida (em cursos como elétrica predial, instalação de placas solares, polimento de veículos e auxiliar de cozinha), a oficial recebeu uma tarefa ainda mais desafiadora: coube a ela coordenar a transferência de centenas de presidiários para viabilizar as obras de renovação da decrépita cadeia, que já foi considerada a pior do país. Era preciso deslocar - em segurança e sem margem para erros - cerca de 3 mil homens para outras unidades do sistema.
— Eu sabia que, se algo desse errado, diriam que uma mulher nunca deveria ter sido chamada para a função, por isso, não medi esforços. E nós conseguimos. Na base do diálogo, com transparência e ética, cumprimos a tarefa sem qualquer intervenção de força — conta, com orgulho, a policial militar.
Major Ana sabia, como seus antecessores, que era preciso encontrar uma forma de dirigir o estabelecimento "sem fazer disso uma guerra". E assim foi, até o último minuto, quando ela repassou o comando do presídio ao agente penitenciário Luciano Lindemann. A BM entregou as chaves da cadeia à Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) no dia 31 de agosto de 2023, após 28 anos de trabalho no local, em um ato histórico.
— Me senti realizada. Acredito que eu e meus colegas honramos a farda — diz a oficial.
Agora, aos 48 anos, major Ana tem uma nova missão, de outra natureza, mas igualmente difícil: ela passou a integrar a equipe que atua na prevenção a acidentes nas rodovias estaduais. E tem mais um sonho: reduzir a carnificina no trânsito.