Sucessor de Rosa Weber à frente da mais alta Corte do país, o ministro Luís Roberto Barroso assume o comando do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (28) sob fogo cruzado. Além do desafio de pacificar as relações estremecidas com o Congresso, que acusa a instituição de cruzar a linha de suas atribuições, terá de "segurar a língua" e se manter longe da política.
Seria bom se seguisse o exemplo da antecessora, reconhecida pela discrição e eficiência.
Há alguns anos, juízes só se manifestavam nos autos de processos. Era raro ver um magistrado opinando em público, dando entrevistas como se fosse celebridade e comentando fatos políticos. A era dos juízes pop stars - que só trouxe problemas ao país, acirrando ânimos e estremecendo as instituições - começou em 2012, no julgamento do Mensalão.
As 53 sessões daquele caso emblemático, que duraram 138 dias, foram alvo de intensa cobertura da imprensa, com as discussões transmitidas ao vivo em rádio e TV. Foi ali que as coisas mudaram.
A transparência foi e continua sendo um ganho sem precedentes, inclusive para que as pessoas possam acompanhar as discussões e compreender os ritos da Justiça, mas a visibilidade inédita da Corte também teve efeitos colaterais negativos. Esses efeitos - sabemos bem - acabaram se ampliando com o passar do tempo, em especial a partir da Operação Lava-Jato e do avanço da polarização política no país.
Não é bom para o Judiciário e, por consequência, nem para a democracia brasileira que juízes apareçam mais do que as causas que devem julgar com isenção, pautados pela lei e não por paixões políticas. A gaúcha Rosa Weber, que acaba de se aposentar, compreendeu isso e seguiu à risca os ensinamentos das boas faculdades de Direito. Longe dos estúdios de TV, das palestras, dos jantares e eventos sociais, ela restringiu suas manifestações aos seus votos e a falas institucionais, como deve ser.
Barroso, que é um grande jurista e certamente contribuirá para o avanço de pautas importantes para o Brasil, já provocou polêmica em ao menos duas ocasiões: ao dizer “perdeu, mané, não amola” a um manifestante que o perseguia e questionava a segurança das urnas eletrônicas, e ao afirmar, em outra ocasião, que “nós derrotamos o bolsonarismo para permitir a democracia”. Não é essa a postura que se espera dele.
O novo presidente do STF terá o desafio de romper resistências, superar desconfianças e aplacar ânimos, sem, nem por isso, abrir mão da firmeza nas decisões. O país precisa disso.