Depois de Torres, agora é Xangri-lá, no Litoral Norte, que debate - mais uma vez - a possibilidade de ampliar a área destinada à construção de prédios no município. De novo, como era de se esperar, o tema mobiliza moradores e veranistas, preocupados com o futuro de uma praia cuja principal característica é a "horizontalidade".
Quem conhece, sabe: é um lugar onde ainda é possível curtir férias e viver em casas e condomínios, com pátios verdes e bem cuidados, verdadeiros oásis urbanos - algo que já perdemos em muitas de nossas cidades. O tema voltou aos holofotes nesta quarta-feira (15), quando seria realizada nova audiência (a sessão acabou suspensa na Justiça).
Em reportagem assinada pela competente Karine Dalla Valle, em GZH, estão os argumentos pró e contra as mudanças no plano diretor.
O prefeito Celso Bassani Barbosa explica que a proposta autoriza prédios de 14 andares em pontos específicos. De acordo com o plano, essas construções poderão ser erguidas em duas áreas pertencentes à chamada Zona Comercial 3. Em outros pontos residenciais da cidade, a autorização é para altura máxima de sete andares.
Na Zona 3, há dois locais que mexem com a memória afetiva de quem conheceu Xangri-lá no passado: os terrenos onde antes havia o Hotel Termas e a colônia de férias do Banrisul, bem próximos da orla. Nesses pontos, poderá haver edifícios mais altos.
O prefeito garante que as obras só serão consentidas onde já existem (ou existiram) edifícios (veja o infográfico abaixo). O argumento é válido, mas quem se colocou contra também tem fundamentos válidos, que precisam ser levados em conta: há estrutura na cidade para tal ampliação? E o esgoto? E os resíduos gerados? São muitas as dúvidas, tal como em Torres, onde o debate prossegue - e recentemente foi até judicializado.
Já frequentei as duas praias, em veraneios inesquecíveis. Conheço bem cada uma. A pergunta que fica é: será mesmo que precisamos verticalizar nossos balneários, perto ou longe do mar? É importante a busca por desenvolvimento, não há dúvidas. É relevante, também, o impacto disso na economia, com mais dinheiro circulando, demanda por habitações atendida, novos empregos sendo gerados e tudo o que esse movimento significa.
Mas não podemos fugir de um debate que tem um pé no futuro: enquanto grandes cidades mundo afora trocam o concreto pelo verde, será mesmo que esse é o melhor caminho? Posso estar errada, mas polvilhar nosso litoral de "espigões" poderá, um dia, ter um efeito contrário ao desejado.