Uma das grandes dificuldades de quem luta para encontrar lares para crianças e adolescentes em busca de novas famílias é a adoção tardia - aquela que envolve meninos e meninas já crescidos, fadados, muitas vezes, ao esquecimento. No RS, graças a um trabalho persistente liderado pelo Judiciário, projetos inovadores vêm contribuindo para mudar essa realidade - entre eles, o aplicativo Adoção, o projeto Busca-Se(R) e o Dia do Encontro, que, juntos, somam uma centena de adoções realizadas.
Os três, como mostrei aqui na coluna no fim de maio, integram iniciativas do Tribunal de Justiça do Estado (TJ) agraciadas com o Prêmio Adoção Tardia, do Senado. São ações reconhecidas nacionalmente pela seriedade e pelo impacto.
Só o app para celular viabilizou 53 adoções (uma média de 13 anuais) em quase quatro anos de existência, que se completam em agosto. No momento, há 34 estágios de convivência em curso e 11 aproximações. Os números crescem ano a ano e provam que a tecnologia pode, sim, fazer a diferença, desde que seja bem aplicada.
— É uma quebra de paradigmas. Quando o aplicativo foi lançado, em 2018, houve quem dissesse que daria errado, que exporia as crianças, mas aconteceu exatamente o contrário. Há muito cuidado e dedicação envolvidos - diz o juiz-corregedor Luís Antônio de Abreu Johnson, à frente da Coordenadoria da Infância e Juventude do RS.
Pelo aplicativo, fruto de parceria com o Ministério Público e a PUCRS, os candidatos a pais e mães cadastrados no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA) podem acessar perfis, ver vídeos e conhecer melhor os jovens. Podem, inclusive, manifestar interesse em adotar, dando início ao processo — que segue todos os passos previstos em lei, para garantir o melhor desfecho.
Três projetos
App Adoção: criado em 2018 para promover adoções de adolescentes, grupos de irmãos e jovens com deficiência. Aposta na humanização da busca (com fotos, vídeos, desenhos, etc.) para despertar interesse e flexibilizar o perfil desejado. Resultou em 53 adoções. Há ainda 34 crianças e adolescentes em estágio de convivência e 11 em fase de aproximação com os possíveis futuros pais.
Projeto Busca-Se(R): implantado em 2016, consiste na busca ativa por pessoas habilitadas à adoção que aceitem flexibilizar o perfil desejado, beneficiando jovens que ainda não conseguiram achar um lar. Já concretizou 34 adoções. Nesse caso, há uma criança em fase de aproximação e 11 em estágio de convivência, que podem resultados em novas adoções no futuro.
Dia do Encontro: lançado em 2018, é um evento anual, com atividades lúdicas, criado para aproximar jovens aptos à adoção e pretendentes habilitados ao processo. Em geral, o encontro é fora dos abrigos, em locais de entidades parceiras. Até agora, a iniciativa resultou em 13 adoções. O próximo encontro será em 9 de julho.
A SABER
Hoje, no RS, segundo dados do Judiciário, há 485 crianças e adolescentes disponíveis à adoção e 3.697 pretendentes habilitados a adotar. Por que a conta não fecha? Porque a maioria dos interessados busca recém-nascidos. O desafio, justamente, é flexibilizar o perfil.