Mariane Rotter é uma artista visual gaúcha. Tem 46 anos, é professora da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), faz doutorado em Artes na UFRGS e, há duas décadas, desenvolve um projeto que chama atenção pela simplicidade e, ao mesmo tempo, pela força com que nos faz pensar.
Desde 2002, Mariane fotografa o cotidiano em autorretratos incomuns, desconcertantes às vezes. As imagens são captadas em banheiros - chiques, precários, reluzentes, coloridos, imundos, banheiros de todos os tipos.
Nas fotos, sempre do mesmo ângulo, vemos a pia, a torneira, o revestimento da parede, o espelho. No reflexo, o olhar repousa. Há algo diferente ali. Enxergamos apenas uma parte do rosto da artista - em geral, a testa, os cabelos - ou nada. Afinal, quem está atrás da câmera?
— Sou uma pessoa com 1m30cm. Quando comecei a fazer essas fotografias, me dei conta de que a linha do meu olhar ficava abaixo, entre muitas aspas, da linha do olhar comum — explica Mariane.
Na série “Meu ponto de vista: check-in”, em exibição na Ocre Galeria, em Porto Alegre, vemos o que a autora vê. É sutil, mas está tudo lá. Sentimos - nós, pessoas ditas “normais” - o impacto do desencaixe.
No salão onde estão expostas as obras, a sensação de estranhamento aumenta, porque a altura em que os quadros foram pendurados não segue os parâmetros da maioria das exposições. É preciso baixar os olhos.
Mariane, uma mulher alegre e bem resolvida, nos convida, com a sua arte única, a uma experiência que anda em falta no mundo: a humildade de nos colocarmos no lugar do outro e de percebermos, enfim, o quão excludente pode ser nossa sociedade.
Conversa com artista
Neste sábado, 4 de junho, às 11h, Mariane Rotter será a convidada especial do projeto “Conversa com artista”, na Ocre Galeria (Rua Demétrio Ribeiro, nº 535), em Porto Alegre. O evento é aberto a todos e tem entrada franca.