Cada novo disco de Pirisca Grecco traz uma surpresa. Mas talvez este oitavo, Ilexlândia, criado durante a pandemia, seja o mais surpreendente de todos. Gaúcho sem seguir o padrão gauchesco, traz mesmo algo bem novo para quem se formou nos festivais nativistas (venceu três vezes a Califórnia da Canção) mas não pode ser considerado um iconoclasta.
Com a cuia de mate na mão, compondo “sob o céu do Pampa”, Pirisca canta para o Brasil com voz serena. Em Cada Um (parceria com Pedro Ribas e Erick Corrêa), que avança quase como um hino, ele propõe: “Vamo se abraçar, gurizada/ Tem que respeitar as diferenças”. Na verdade, todas as canções são marcantes, formando um consistente conjunto ideológico-musical.
Vários parceiros percorrem o álbum, que tem milonga, zamba, toada, aqui e ali com clima pop, belas melodias mesclando ares filosóficos, vivências, fraternidade, romantismo, português e espanhol. As participações especiais sublinham a universalidade. Olha só: Serginho Moah, Victor Hugo, Mauro Moraes, Daniel Drexler, Luiz Marenco e Thedy Corrêa, Tonho Crocco, Esteban Tavares, Pedro Ribas, Arthur Seidel e Maria Fernanda Costa.
Para fechar o disco, Milongueando uns Troços, clássico de Mauro Moraes, reúne Humberto Gessinger e Rafael Ovídio. Tudo feito com a ótima Comparsa Elétrica de Duca Duarte (baixo), Rafa Bisogno (bateria), Paulinho Goulart (acordeom) e Texo Cabral (flauta).
(Independente, CD R$ 29,90 em minuanodiscos.com.br)
No tempo da gravadora Forma
A “aventura” do selo Forma já estava praticamente esquecida. Eis que surge o jornalista e pesquisador Renato Vieira para nos lembrar e registrar tudo para o futuro no livro Tempo Feliz – A História da Gravadora Forma.
Criado em 1964 por dois jovens idealistas, Roberto Quartin (apaixonado por música, a bossa nova em especial) e Wadi Gebara Neto (empresário, idem), o selo passou à história da MPB tendo lançado apenas 22 discos – todos definitivos.
O primeiro, Inútil Paisagem – As Maiores Composições de Antonio Carlos Jobim, revelou o arranjador Eumir Deodato, 22 anos. Os últimos foram os dois volumes de Vinicius: Poesia e Canção, com vários intérpretes. Entre eles, saíram os primeiros do Quarteto em Cy, de Moacir Santos, do Quinteto Villa-Lobos, os Afro-Sambas de Baden Powell...
Além de contextualizar cada produção com dados atuais, o livro reproduz os textos de contracapa e as fichas técnicas. A Forma durou apenas dois anos, deixando seus idealizadores cheios de dívidas... (Kuarup Música, 210 páginas, R$ 69)
Antena
Su Paz: Enfim Uma Cantautora
Envolvida com música desde 2008 em Sapucaia do Sul, ex-integrante do grupo Mas Bah!, a cantora Su Paz esteve em muitos festivais nativistas até partir para a carreira solo também como compositora. Seu primeiro álbum é este Florescida Raíz, que resume como “música regional feita por mulher” – coisa meio rara por aqui. E ela começa muito bem, revelando-se uma cantautora em quem se deve prestar atenção.
O conjunto de canções combina ritmos gaúchos e sul-americanos como chamamé, chote, zamba, valseado, toada, e inclui duas parceiras, Clarissa Ferreira e Charlise Bandeira. As letras são afirmativas, uma mulher falando de si e da condição feminina no mundo. O canto é forte, aberto, convida a ouvir. Ao lado de Su está um afiado time de músicos, destacando Joaquim Velho (acordeom), Rafa Martins (percussão), Felipe Radons (baixo) e Carlos Môller (violão).
(Independente, CD R$ 20 em minuanodiscos.com.br)
Sino da Mata: Música e Umbanda
Quando começou a rodar o disco de Sino da Mata, quase não acreditei que aquela música vinha de alguém nascido no RS. Já na primeira faixa a percussão hipnótica e a letra com referências espirituais afro-brasileiras alertam os sentidos. E assim segue até a última.
Natural de Bagé, radicado em Santa Maria, Sino começou em bandas de rock no início dos anos 1990. O primeiro álbum, como Sino Lopes, saiu em 2002. A seguir atuou como publicitário. A “revelação” veio em 2019, quando vivia em Florianópolis: “Aí começa minha conexão com a espiritualidade, no caso, a umbanda”, conta.
O primeiro resultado como Sino da Mata é este Timoneiro. Batuque, blues, funk, rock, samba, ritmo forte sempre, ele na guitarra, baixo e teclado, mais percussão (Jonas Viana) e algum sopro. E canta muito o cara. Só pra dar uma ideia, sua voz lembra Serginho Moah.
(Independente, CD R$ 45, pedidos para contatosinodamata@gmail.com)