O Ministério Público do Rio Grande do Sul ofereceu denúncia contra um ex-diretor do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer). De acordo com a acusação, Rogério Uberti e sua esposa, Maiara Scalco, receberam uma série de depósitos em conta corrente do então diretor financeiro-administrativo da empresa Pavia, Marcelo Ferreira.
Os pagamentos, que totalizam ao menos R$ 174 mil, ocorreram no período entre março de 2017 e junho de 2018. Uberti foi diretor-geral do Daer entre outubro de 2016 e fevereiro de 2019.
De acordo com o promotor Flávio Duarte, dois dias após o último depósito, a empresa teve seu contrato de restauração e manutenção de rodovias na região de Erechim prorrogado pela primeira vez. A segunda prorrogação ocorreu em fevereiro do ano seguinte, último mês de Uberti no comando do Daer.
- A Promotoria Especializada Criminal de Porto Alegre ofereceu denúncia relacionada a um esquema de corrupção que teria ocorrido no Daer no período de 2016 e 2018. O esquema consistiria no recebimento de valores pelo então diretor-geral do Daer da época, valores esses oriundos de contas do representante legal da empresa que era contratada pelo Daer. Esses valores eram feitos na própria conta corrente do diretor-geral do Daer e na conta corrente da companheira dele, totalizando pelo menos R$ 174 mil. Dois dias depois do pagamento de uma dessas parcelas foi firmado um aditivo ao contrato firmado pelo Daer e essa empresa, que acrescentou ao contrato original cerca de R$ 8 milhões aos valores firmados anteriormente - explica Duarte.
O contrato com a Pavia fora assinado em abril de 2016, antes de Uberti ter assumido a direção-geral. Na época, ele atuava na autarquia como diretor de operações rodoviárias.
A investigação começou em 2019 a partir de informações recebidas pelo Ministério Público. A acusação foi encaminhada em maio para a 1ª Vara Estadual de Processo e Julgamento dos Crimes de Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro.
Uberti é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Contra Maiara, o Ministério Público identificou a prática de lavagem de dinheiro. Já Marcelo Ferreira é acusado de corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
A coluna conseguiu contato com dois dos três acusados. Rogério Uberti é servidor do Daer. Atua em teletrabalho e tem um salário de R$ 11,1 mil - além de agente rodoviário é membro da Junta Administrativa de Recursos de Infrações (Jari) da autarquia.
- Nunca tive relação com a empresa Pavia. Eu não provoquei nenhum aditivo para a empresa Pavia. Muito pelo contrário. A minha relação quase ficou extremada com o meu amigo Marcelo Ferreira por questões contratuais da empresa Pavia. Eu me desincompatibilizei com o Marcelo, que é meu amigo pessoal. O Marcelo Ferreira, antes de ser diretor financeiro da Pavia, é meu amigo até hoje.
Além disso, Uberti garante que o aditivo foi avaliado pelo Banco Mundial, que era o financiador dos investimentos. Sobre os pagamentos recebidos na conta dele e da esposa, o servidor informa que é sócio do ex-diretor da Pavia.
- Nós montamos uma criação de cães importados juntos - garante ele.
Uberti reclama que gostaria poder ter respondido as perguntas do Ministério Público. Porém, as duas convocações que foram feitas foram desmarcadas.
- Eu queria explicar para o Ministério Público. E eles nos convocaram duas vezes e cancelaram as duas vezes a convocação - diz o servidor.
A esposa de Uberti, Maiara Scalco, referenda as informações repassadas e também se queixa que não foram ouvidos.
- A única coisa que a gente quer é explicar a verdade. E a verdade é essa - garante Maiara.
O promotor Flávio Duarte garante que ambos foram convocados, que houve a transferência de uma das audiências, mas que eles optaram por não comparecer no segundo depoimento marcado.
O empresário Marcelo Ferreira foi o único que ainda não encontrado pela coluna. Ele não faz mais parte da empresa e atualmente teria residência fixa nos Estados Unidos.
Procurado, o Daer informou que uma sindicância foi aberta para apurar os fatos.
"O Daer está providenciando a abertura de uma sindicância a fim de apurar os fatos e tomar as devidas providências", informa nota da autarquia.