Quem passava pela Rua José Pedro Boéssio no começo da noite de terça-feira (18), ainda encontrava a via alagada, 24 horas depois do temporal que atingiu Porto Alegre. O detalhe é que o trecho de 846 metros da rua, localizada na zona norte de Porto Alegre, recebeu um investimento de R$ 13,7 milhões.
A obra entre a avenidas Palmira Gobbi e Ernesto Neugebauer deveria ter sido entregue no último sábado (15). Porém, a demora para remover 24 postes que ainda estão sobre a via, fez a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smoi) adiar em mais 30 dias a liberação total do trecho para a circulação de veículos.
Procurada, a secretaria reconhece que a obra não irá resolver o problema dos alagamentos quando houver chuva extrema. Os moradores dessa região dos bairros Humaitá, Vila Farrapos e Navegantes só se livrarão dos alagamentos após a realização de obras específicas como o aumento da capacidade da Casa de Bombas nº 5, limpeza de canais que conduzem água a céu aberto na região.
Além disso, num desses canais, chamado de Coletor Geral Norte, foram construídos dois pilares do viaduto da Rodovia do Parque que desce na freeway. Para que seja possível que a água siga seu curso será necessário construir um desvio.
Na gestão dos prefeitos José Fortunati e Nelson Marchezan, a prefeitura cobrou do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Porém não teve êxito.
Responsabilidade da OAS
O Dnit reconhece que o pilar foi realmente construído neste local. Porém, informa que as melhorias na região seriam realizadas pela OAS, como contrapartida pela construção da Arena do Grêmio. Dessa forma, os pilares não causariam obstrução ao canal.
Mas as obras do entorno da Arena pararam em 2016 e até hoje não foram retomadas. As discussões estão ocorrendo nos tribunais, em segredo de Justiça.
O Dnit, então, chegou até criar um programa de obras complementares da Rodovia do Parque, e uma das ações seria fazer o desvio do canal. Porém, a concessão da estrada para a iniciativa privada travou o andamento das melhorias.
Procurada, a CCR ViaSul informa que essa obra não está prevista no contrato assinado com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Dessa forma, não é de sua responsabilidade.
"Não temos nada do tipo previsto no contrato de concessão. Não herdamos passivos do Dnit. Por isso, continuamos realizando nossos serviços de conservação e melhorias no trecho de concessão. O que foi tratado entre os órgãos responsáveis não se aplica à Concessionária", relata a CCR ViaSul.
Prefeitura perdeu recursos
Como o Dnit não tomou providências, a prefeitura buscou um financiamento com a Caixa. E conseguiu. Além dos 33,71 milhões para a execução das obras realizadas na Ernesto Neugebauer e José Pedro Boéssio, foram destinados mais R$ 34 milhões para a readequação da Casa de Bombas nº 5 e desvio do Coletor Geral Norte.
Porém, a gestão passada não avançou com as ações necessárias para executar as obras. Chegou inclusive a ser notificada pela Caixa e pelo Ministério do Desenvolvimento Regional para que tomasse providências.
Como nada foi feito, os R$ 34 milhões foram cortados e o ministério informou à prefeitura que buscasse um nova linha de financiamento de saneamento junto ao Governo Federal.
Obra com recurso da Copa
A pavimentação da Rua José Pedro Boéssio começou em novembro de 2019 e deveria ter ficado pronta no primeiro semestre de 2020. A via faz parte do traçado pretendido para a futura 4ª perimetral. Sua ligação com a avenida Ernesto Neugebauer pretende favorecer a integração metropolitana pela BR-116 e BR-290.
As melhorias na José Pedro Boéssio são a segunda parte das intervenções na região. A primeira delas foi a obra na Avenida Ernesto Neugebauer. Ela recebeu nova pavimentação em blocos de concreto e rede de drenagem nos 2.680 metros de extensão. Os trabalhos foram executados entre abril de 2016 e agosto de 2020.