“As grandes mudanças na história nunca vieram dos humildes, mas da frustração das pessoas, com grandes expectativas que nunca se cumpriram.” (Zygmunt Bauman)
Atribuir toda a superficialidade da vida moderna à pressa de viver me parece um exagero.
Mas não se pode negar que a ânsia de conquistar posição social, prestígio e dinheiro está consumindo a racionalidade, cada vez mais vista como uma virtude discutível.
Nem a Modernidade Líquida de Zygmunt Bauman, ou a Sociedade do Cansaço de Byung-Chul Han, dois ícones da sociologia moderna, conseguem precisar causas e consequências da instabilidade emocional dessa garotada que, bem ou mal, cuidará de nós logo adiante, e depois, quando já tivermos ido, seguirá decidindo o que é mais adequado para o bem-estar dos nossos filhos e netos.
Então não podemos fazer de conta que não temos nada a ver com a formação dos médicos do futuro. Sem nenhuma dúvida de que ensinamos mais pelo exemplo do que pelo discurso, e completamente convencidos de que a didática do exemplo exige um tempo de observação, estamos perplexos de perceber que justamente esse tempo a geração atual não parece disposta “a perder”.
E não creio que exista a possibilidade de transformar as lições do dia a dia, tão ricas e variadas, em experiência verdadeira se não houver o mínimo de introspecção para digeri-las.
Convivendo diariamente com jovens, sinto-me dividido entre a inveja pela leveza com que eles encaram os problemas reais e a preocupação com a superficialidade das relações pessoais, que faz parecer supérflua a emoção.
Conscientes de que a vida fica vazia sem os ingredientes emocionais, assombra a total incapacidade de redigir um texto minimamente emotivo e a fugacidade dos relacionamentos amorosos. A modernidade trouxe consigo a cultura do individualismo e do descartável, em todas as interações humanas e de maneira marcante nos relacionamentos amorosos.
As plataformas de relacionamentos, ainda que possibilitem eventualmente relacionamentos duradouros, certamente estimulam relações voláteis, com uma fantasiosa lista de opções emocionais, diminuindo a motivação de investir tempo e empenho em um único relacionamento.
A naturalidade com que os jovens se aproximam, ficam e passam adiante impressiona pela banalização do afeto. E sem queixas de ambos os lados, porque nesta peregrinação amorosa todos parecem desprezar a permanência e considerar retrógrada a fidelidade.
Enquanto isso, os mais velhos, sempre preocupados em entender o mundo em vivemos (sem termos tido a oportunidade de escolher a época), e empenhados em fugir do rótulo de ultrapassados, não conseguimos disfarçar o espanto de reconhecer que um sentimento tão inerente ao amor verdadeiro quanto o ciúme esteja ameaçado de extinção. Menos ainda que isso seja chamado de evolução.