A primeira impressão que se tem, acompanhando as redes sociais, é que há um compartilhamento geral da vida dos envolvidos, nominados como seguidores, e que, por serem assim, camaradas, têm acesso a todas as informações do outro, cuja vida passou a pertencer ao condomínio dos curiosos. Todos rotulados como amigos, como se amizade pudesse ser banalizada. Passando os olhos pelos comentários que seguem a qualquer relato, percebe-se que a maioria é constituída por fofoqueiros desqualificados, feito juízes implacáveis sob a toga da hipocrisia, protegidos pelo escudo da invisibilidade que lhes permite emitir opiniões fortes, que lhes escorreriam às calças se tivessem que dizê-las cara a cara.
E por que não há mais revolta por parte dos agredidos? Porque mesmo o mais tolo dos exibicionistas seleciona para divulgar apenas as trivialidades, essas mentirinhas idiotas que alguns usam para fazer parecer que são mais interessantes do que de fato são.
Que essa exposição vulgar e desnecessária não tem nenhum significado afetivo já se sabe desde que se percebeu que, quando alguém pretende materializar as ofertas de amizade, sugerindo um encontro formal, há uma debandada geral, como a afirmar que você pode ter 5 mil "amigos" cadastrados, mas terá, com sorte, uma meia dúzia que convidaria para jantar, misturar um vinho com histórias de afeto, e no máximo da intimidade, compartilhar o silêncio da reflexão.
Esses amigos do vinho e do silêncio confortável estão em outro compartimento, que a gente deve proteger com paredes blindadas e senhas criptografadas. Com eles podemos dividir tudo ou quase tudo, e se decidirmos omitir alguma informação a nosso respeito eles entenderão, porque amigo não se melindra e sempre entende que existem razões para a privacidade.
O Juliano era um cara do bem, pouco chegado a superlativos, na empresa, na ambição e na vida. De origem humilde, envelheceu preocupado que a família pudesse ter dificuldade de sobreviver a sua ausência. Talvez tenha percebido que sua prole era daquele tipo que acha que tudo que puder ser no cartão e, em várias parcelas, é barato.
Tendo descoberto uma bomba-relógio dentro do peito, seguiu fazendo tudo o que pudesse fazer, sem aparentar sofrimento. Quando chegou ao limite, me confidenciou: "Este segredo está me atormentando e acho que podes me ajudar! Quando me descobri doente, senti que ainda teria algum tempo, e proteger minha família da notícia ruim me pareceu adequado. Agora, na reta final, não quero ninguém com pena de mim. Curioso é que, à medida que o tempo foi passando, fui perdendo o medo de morrer e o meu único desejo secreto seria apenas espiar o dia da minha morte. Com um enorme receio de descobrir que minha família possa chorar menos do que chorou pela Ludi, uma poodle fofinha que tivemos. E aí, conto ou não conto? Pensei em dividir contigo essa dúvida, mas agora, só de te contar, me decidi: deixa estar. Eles não podem me ajudar nem merecem o castigo de sofrer com antecedência. Além disso, eu também ainda não me recuperei da falta que sinto da minha poodle".