A inteligência emocional, tão requisitada pelas grandes empresas na seleção dos melhores executivos, é uma qualidade inata, reconhecida de pronto até por pessoas de inteligência mediana e lamentavelmente, impossível de ser ensinada, mesmo pelos maiores gênios da pedagogia moderna. O coaching, que trata de desenvolver habilidades e competências do indivíduo e condicioná-las à máxima eficácia, no máximo consegue tornar os rudes menos toscos, sem jamais emprestar sensibilidade aos insensíveis. A capacidade de expressar emoção é única, pessoal e intransferível, e dela não se apossam os farsantes porque não há nada mais perceptível do que uma emoção falsa, por mais que tenha sido ensaiada. Essa exigência é tão intensa que os maiores atores choram e sofrem de verdade, quando o papel exige a exposição de um sentimento doloroso. E isso os separa dos medíocres.
A palavra, esse instrumento maravilhoso, pode ter sido criada, lá no início, apenas para que os nossos ancestrais se comunicassem primitivamente, mas na sociedade civilizada foi adquirindo uma importância crescente e encontrou no discurso seu momento de máxima sofisticação. Todos os grandes oradores da humanidade se notabilizaram por duas qualidades essenciais: a de interpretar o sentimento de quem ouve, de modo a dar ao ouvinte a sensação de que está falando por ele; a de transmitir emoção, estabelecendo uma linha divisória entre o encantamento inesquecível e a sonolência irresistível.
O discurso burocrático, marcado por frases feitas e pausas demagógicas, é, com justiça, punido pelo esquecimento imediato. O que explica por que os repórteres políticos se esforçam tanto para anotar algumas frases desconexas, para preencher um espaço no jornais com obviedades. Nada mais massacrante para um pobre jornalista do que produzir uma síntese do discurso vazio. E isso é o que se percebe todos os dias nas entrevistas com algumas personalidades políticas, treinadores de futebol e comentaristas esportivos. Nos discursos com pretensão de homenagem, o componente emotivo é indispensável, e, nesse contexto, nada marca mais do que uma expressão de afeto inesperada.
Nada como o improviso para ilustrar a delicadeza dos sentimentos.
Naquela manhã, a cerimônia estava programada para dois momentos. No primeiro, a despedida do doutor Jorge Hetzel, da direção médica da Santa Casa, depois de 13 anos no cargo e 50 anos de atividade na instituição, onde conquistou a unânime condição de modelo de afeto e generosidade. Um queridão. Na segunda parte, a posse do doutor Antonio Kalil, que o substituía na função e que chegava com uma bagagem invejável de respeito, dinamismo e competência. A Inês Kiszewski, secretária da Provedoria e uma referência na instituição pela doçura, disponibilidade e dedicação, exercia, elegante e bem articulada, com sobriedade a função de mestre de cerimônia. Finda a despedida emocionada do Jorge, ela devia chamar o Kalil para a sequência do cerimonial e então, inadvertidamente, ela chamou o Jorge outra vez. Diante do riso do público, com a voz embargada, ela fez reparação mais doce:
— Desculpem, é que eu não queria que ele fosse embora!
Nada como o improviso para ilustrar a delicadeza dos sentimentos.
P.s.: na proxima terça-feira, dia 11, a partir das 17h30min, terei prazer em recebê-los para a sessão de autógrafos do livro Se Você Para, Você Cai (L&PM), na charmosa Pocket Store (Rua Félix da Cunha, 1.167).