Mesmo os eternamente peregrinos, com alta rotatividade de aposentos ocasionais, aprendem a valorizar a funcionalidade dos ambientes e reconhecem que voltar para casa, ou encontrar um lugar que ao menos lembre o canto que cada um chama de seu, é, com alguma frequência, o melhor momento de uma viagem cheia de bons momentos.
Se isso é assim na saúde e felicidade, imagine-se o grau de dependência do afeto ambiental, de quem se sente pra baixo porque adoeceu. Os melhores hospitais do mundo, historicamente, se limitavam a albergar os pacientes em condições hoteleiras satisfatórias, a oferecer tecnologia de ponta para assegurar todas as facilidades diagnósticas e a garantir que nada faltasse da terapêutica determinada pelo corpo clínico-cirúrgico mais especializado.
Teoricamente, isso era a tudo o que se podia conceber para que a melhor medicina fosse oferecida aos seus privilegiados pacientes. Entretanto, como o nível de satisfação da clientela nunca se aproximava do pretendido, começaram os questionários em busca do hospital ideal, o que, como era de se esperar, abriu a porta aos queixosos.
Nessa altura, houve o claro entendimento de que, antes de tratar as doenças das pessoas, temos que cuidar das pessoas que adoeceram. E, para essas criaturas, fragilizadas, um ambiente com luz natural, uma cor alegre nas paredes do quarto, a disponibilidade de um sistema de som que lhes permita ouvir as suas músicas, um terminal para uso do laptop ou a autorização para usar o celular na UTI significam muito mais do que a modernidade dos monitores ou os requintes técnicos do tomógrafo de última geração. E por quê? Porque uma coisa é o que existe para o resto do mundo, e outra, o que percebemos como nosso. Ou seja, a tecnologia pode tornar o hospital mais famoso, mas não diminui a solidão, e isso é o que o sentimos.
As pequenas coisas, essas que nos dão prazer, representam um patrimônio pessoal que festejamos por conservar, ou lamentamos por perder. A conexão com o mundo virtual servirá, ao menos, para preservar a sanidade emocional ameaçada pela perigosa junção de medo e solidão. Sentir-se vivo está diretamente condicionado a estar conectado ao mundo exterior, através de todos os instrumentos sensoriais.
A quebra dessas conexões amplia a distância entre a saúde e a doença e, no mínimo, retarda a recuperação. Quando perguntei ao Raul como tinha sido sua passagem por uma das melhores UTIs do mundo, onde lhe restauraram a vida depois de um procedimento de altíssimo risco, ele foi sucinto:
— Não tinha wi-fi!
Impressiona a variedade de exigências de quem está consumido pelo medo da morte, e, com todos os sensores ligados, nada lhes escapa da avaliação crítica, e tudo é importante, indispensável e intransferível.
Quem não entende isso devia evitar a proximidade com pessoas doentes. Essas criaturas fazem exigências que os saudáveis impacientes consideram fúteis. Porque simplesmente não aprenderam ainda que, quando nos sentimos diminuídos pela doença, qualquer perda adicional, não importa o tamanho, parecerá insuportável. E ninguém sente a dor que dói no outro.