A manifestação convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para o fim de fevereiro, em protesto contra as acusações que lhe estão sendo feitas pela Polícia Federal, pelo ministro Alexandre de Moraes e pela área mais agressiva do governo Lula, virou um acontecimento político de primeira linha. Não é isso, aparentemente, que vai diminuir a barragem de artilharia disparada contra ele pelo STF. Se a rua encher o ambiente vai ficar mais nervoso — mas os ministros têm uma tradição de olhar para a praça pública como um foco de infecção operado por seus inimigos políticos. Nunca cogitam que possa haver aí, talvez, um alerta de que a população está achando algo de errado com o que fazem.
É alguma discordância ou crítica ao Supremo? Então é um “ataque à democracia”.
A atitude símbolo do STF diante de manifestações públicas de oposição ao seu comportamento é a definição que o presidente do tribunal, ministro Luís Roberto Barroso, deu às vésperas da maior concentração popular de apoio a Bolsonaro na campanha eleitoral de 2022. “Vamos ficar sabendo qual é o tamanho do fascismo no Brasil”, disse ele na ocasião. É precisamente isso. Os membros do STF, o governo Lula em geral e a esquerda mais agitada em particular, nunca admitem que o povo brasileiro possa ter alguma coisa a ver com os atos públicos de protesto contra eles. Dizem que as manifestações de rua, tenham o tamanho que tiverem, são apenas coisa do “bolsonarismo”. Jamais consideram que haja o exercício da democracia em nada disso, pela livre exposição de opiniões diferentes das suas.
É alguma discordância ou crítica ao Supremo? Então é um “ataque à democracia”. É operação da extrema direita. Está na fronteira do crime político, e fica sujeito ao inquérito policial do ministro Moraes, perpétuo e ilegal, que há cinco anos funciona como o AI-5 do regime. Agora, com a manifestação convocada por Bolsonaro em São Paulo, essa pregação tem tudo para se repetir. O STF vai ser mais uma vez colocado pela esquerda, pela mídia e por si próprio como vítima dos “inimigos da democracia”. Nenhuma palavra, é óbvio, vai ser dita sobre a verdadeira substância da questão: a baderna legal que o STF criou no país com as decisões que vem tomando, uma depois da outra. O problema não é que o tribunal seja “antifascista”. É que desrespeita a lei.
Uma parte da população brasileira julga que o principal tribunal de Justiça do país é um desastre, simples assim. Não foi forçada por ninguém a pensar dessa maneira. Basta olhar para as decisões do STF. Porque não há, nem vai haver nunca, nenhuma manifestação popular de massa em favor do STF? Não é preciso dizer mais nada.