Investigações da Polícia Federal mostram que o pivô da suposta fraude no cartão de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o seu ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, pediu auxílio de um ex-vereador do Rio de Janeiro para forjar o cartão de vacinação de sua mulher, Gabriela Santiago Ribeiro Cid. Acontece que esse ex-parlamentar, Marcello Siciliano (PP), já foi suspeito de envolvimento num outro caso rumoroso, o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), na época em que ambos eram colegas na Câmara Municipal.
Primeiro vamos abordar o caso mais recente. Mauro Cid precisava de um comprovante de vacinação contra a covid-19 para que sua esposa viajasse aos Estados Unidos, em 21 de dezembro de 2022 (naquele país são exigidas duas imunizações). Isso consta de diálogos de WhatsApp interceptados pela PF, mediante ordem judicial. Cid pediu ajuda a um funcionário, que entrou em contato com um sobrinho médico. O documento foi emitido, de forma fraudada, como sendo feito pela Secretaria de Saúde do Estado de Goiás, onde o médico participante do esquema trabalhava. O documento apontava que a mulher de Cid foi vacinada com duas doses da Pfizer.
Só que, segundo a PF, Cid passou a se questionar se a fraude seria descoberta, já que ele e sua mulher nunca estiveram na cidade goiana onde teria ocorrido a vacinação (Cabeceiras). O ajudante de ordens de Bolsonaro pediu então auxílio do ex-vereador carioca Marcello Siciliano. Esse teria intermediado a falsificação de outro certificado de vacina, em Duque de Caxias (RJ). Em troca, o ex-parlamentar teria pedido ajuda de Cid para conseguir visto para os EUA, vetado devido ao fato dele ter sido investigado pela morte de Marielle. Não se sabe se ele conseguiu.
O que se sabe é que o cartão de vacina da esposa de Cid foi emitido por Duque de Caxias e ela conseguiu viajar aos Estados Unidos, em janeiro de 2023. Segundo a PF, a mudança do certificado de Goiás para o Rio de Janeiro foi que deu o indício de fraude e que levou às investigações.
Em conversa com Cid, um segurança de Bolsonaro chega a dizer que sabe quem matou Marielle e diz que Siciliano "está de bucha" no caso (acusado injustamente).
Agora, o caso mais antigo: Marielle Franco e seu motorista, Anderson Franco, foram assassinados em 14 de março de 2018 e o nome de Siciliano apareceu na investigação porque uma testemunha, um PM, disse que o vereador e um miliciano, Orlando Oliveira de Araújo (conhecido como Orlando Curicica) tramaram a morte da vereadora do PSOL porque ela era uma ameaça aos interesses de ambos na Zona Oeste. Eles controlariam terrenos onde ocorre grilagem (invasão irregular, com fins imobiliários) e Marielle defendia pessoas que moram nessas áreas. O policial trabalhava como motorista do chefe da milícia.
O então vereador e o miliciano teriam se encontrado quatro vezes, antes da morte de Marielle. Siciliano negou envolvimento e o depoimento do PM foi, posteriormente, apontado pela PF como uma trama para atrapalhar a apuração do assassinato. Até hoje a morte de Marielle não foi esclarecida. Com base em testemunhos e quebra de sigilos telefônicos, dois ex-PMs foram apontados como executores da vereadora e do seu motorista. Eles estão presos desde 2019. Os filhos de Bolsonaro já declararam que acham absurda a tentativa de vincular sua família ao assassinato da vereadora.