Ninguém está acima da lei. Uma das frases favoritas de qualquer policial, esse é o duro recado recebido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com a busca e apreensão em sua residência feita pela Polícia Federal (PF) na manhã desta quarta-feira (3). A frase também era um dos motes da Operação Lava-Jato, louvada pelos bolsonaristas. Isso quando elogiavam as ações dos federais que tinham como alvo aqueles a que viam como inimigos, sobretudo os petistas. Agora vivenciam o mesmo desgosto de seus adversários
A verdade é que a ação da PF entra para a biografia de Bolsonaro de modo similar ao da condução coercitiva sofrida por seu adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2016. Ambos tiveram o desgosto de ver agentes federais baterem na sua porta. E terem seus celulares apreendidos.
Bolsonaro ainda tem o dissabor de ver presos pela PF alguns de seus homens de confiança, como o tenente-coronel do Exército Mauro Cid (que atuava como seu ajudante de ordens), e dois que atuavam na segurança do ex-presidente, Sérgio Cordeiro (também militar do Exército) e o policial militar Max Guilherme.
Um quarto personagem também foi preso: o atual secretário de Cultura e Turismo do município de Duque de Caxias (RJ), João Carlos Brecha. Ele é suspeito de ter acessado o sistema do ConecteSus e inserido dados de vacinação de Bolsonaro e seus familiares, no Estado do Rio de Janeiro, em outubro de 2022, entre o primeiro e o segundo turno da eleição. Ele nega isso e até relações com Bolsonaro.
A PF suspeita que os dados dos certificados de vacinação foram adulterados para permitir a entrada nos Estados Unidos, no fim do ano passado. Bolsonaro viajou ao país em dezembro, dois dias antes da posse de Lula.
É até curioso que Cid, Cordeiro, Guilherme e Brecha tenham sido presos, já que falsificação ideológica (a fraude documental) não costuma render cadeia aos criminosos. A prisão se justificaria se eles estivessem a ponto de eliminar provas, o que não é de se duvidar. Só quando o Supremo Tribunal Federal (STF) tornar públicas as ordens judiciais desse caso é que saberemos os fundamentos.
O que já sabemos é que a investigação está baseada em auditoria realizada pela Controladoria-Geral da União (CGU), aberta em fevereiro. Ela solicitou ao Ministério da Saúde dados sobre "dia e hora em que foi registrada a aplicação da vacina ministrada no ex-presidente da República no dia 19/07/2021, na UBS Parque Peruche -SP, o responsável pela efetivação de tal registro e o nome da pessoa que aplicou o imunizante naquela oportunidade".
Pelo visto, os dados sobre vacinação do presidente não fecham. Inúmeras vezes, Bolsonaro disse não ter se vacinado contra a covid-19 e impôs sigilo de um século sobre o documento e alegou privacidade. Durante a pandemia, ele questionou a eficácia da vacina inúmeras vezes e desestimulou a vacinação da população. Depois, colocou sob sigilo por 100 anos os dados de sua carteira de vacinação.
Acontece que para ingressar nos EUA ele teria de estar vacinado. Ou seja, ou ele se vacinou ou a informação foi falseada.
O certo é que os problemas de Bolsonaro com a lei começam a se acumular. Entre as explicações que ele já teve de dar estão declarações que colocam em dúvida o resultado das eleições e a lisura das urnas eletrônicas. Outro ponto é o destino das joias recebidas como presente de países do Oriente Médio e as pressões para que elas fossem liberadas pela Receita Federal.