A manhã desta quarta-feira (22) começou com uma informação bombástica, admitida pelo próprio ministro da Justiça, Flávio Dino: a maior facção criminosa do país planejava sequestrar e assassinar autoridades. O mais notório alvo é o ex-juiz, ex-ministro e atual senador Sergio Moro (União Brasil-PR), o homem que encarnou a Operação Lava-Jato.
Quando ministro da Justiça, Moro viabilizou a transferência de diversos integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC, maior facção do país, nascida em São Paulo), para penitenciárias de segurança máxima. Agora estaria condenado à morte pelo tribunal do crime. Fica a dúvida: por que agora, se Moro deixou o ministério em 2020? De qualquer forma, é investigação oficial. Séria, em princípio.
Outro na mira seria o promotor paulista Lincoln Gakiya, possivelmente o maior especialista em PCC e que conseguiu a condenação de vários integrantes daquela facção. Já entrevistamos ele. O risco é tão grande que ele não permanece muito tempo no mesmo endereço nem na mesma repartição pública. Troca de carro com frequência e só anda escoltado.
As demais autoridades na mira da facção não foram oficialmente mencionadas por Flávio Dino.
Caso concretize sua intenção de atacar dezenas de autoridades de forma simultânea, o PCC dá um passo decisivo para se tornar algo similar aos cartéis mexicanos. No México, como o leitor sabe, milhares de policiais, promotores, juízes, políticos, empresários e jornalistas foram sequestrados ou assassinados nos últimos anos por criminosos que estão enraizados no poder. Algo que já tinha ocorrido na Colômbia, nos anos 90.
O que falta para o PCC virar cartel? Primeiro, o domínio da produção de drogas. A facção, além de abrangência nacional, já se internacionalizou: avançou sobre as quadrilhas na faixa de fronteira com Paraguai e Bolívia. Só que lhe falta o controle da produção de cocaína e maconha. Mas já domina o contrabando em portos e aeroportos. Falta pouco.
Talvez o mais decisivo seja que, no Brasil, as autoridades parecem decididas a impedir a mexicanização do crime organizado. Independentemente do partido no poder, as polícias costumam se unir no combate às principais facções. É claro que existem policiais cooptados por criminosos, mas são exceção e não regra. Essa união supera ideologias — haja visto, agora, que Flávio Dino (PSB) não hesita em oferecer ajuda a um dos maiores algozes dos petistas, Sergio Moro. Que agradeceu o apoio. Um bom e raro exemplo de união.