Depois de uma operação realizada na semana passada para prender suspeitos de sequestrar dois filhos de um empresário da zona norte de Porto Alegre, a Polícia Civil volta às ruas nesta quarta-feira (22) para cumprir seis mandados de prisão preventiva e outros 14 de busca em São Leopoldo, no Vale do Sinos. Os alvos são integrantes de um grupo que sequestrou um empresário de Canoas um dia depois do Natal do ano passado e exigiu o pagamento de R$ 500 mil pelo resgate.
Nesta quarta, 65 agentes cumprem seis mandados de prisão preventiva e outros 14 de busca e apreensão. A ação ocorre nos bairros Arroio da Manteiga, Campina, Scharlau, Feitoria e Duque de Caxias. Segundo o delegado Abreu, é uma nova fase da chamada "Operação Tesla".
O crime apurado é o de extorsão mediante sequestro. A pena é de oito a 15 anos de prisão. Até as 7h, quatro pessoas tinham sido presas, três homens e uma mulher.
Como os agentes da Delegacia de Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) foram acionados rapidamente pela família, logo que chegaram as primeiras mensagens, as informações sobre a quadrilha começaram a surgir ainda durante o sequestro. Em 27 horas, dois suspeitos foram presos, o cativeiro foi descoberto e houve confronto. Dois sequestradores foram mortos e um fugiu.
Na semana passada, após prender suspeitos e investigar a participação de uma advogada no crime, o titular da Delegacia de Roubos, delegado João Paulo de Abreu diz que a diferença no caso atual são os fatos do tiroteio com óbitos e o não pagamento do resgate. Segundo ele, as semelhanças foram as vítimas libertadas ilesas e, no caso, a importância das famílias ligarem de prontidão para o Deic.
Nos dois casos, os agentes monitoraram as negociações na busca de elementos para identificar suspeitos, rastrear os passos deles e localizar os cativeiros.
Neste caso do empresário de Canoas, Abreu conta que o homem de 31 anos foi abordado na região central da cidade por volta de 18h do dia 26 de dezembro de 2022. Já por volta das 19h, familiares começaram a receber mensagens via WhatsApp sobre pedido de resgate. Em uma delas, os criminosos exigiam pagamento via Pix. Quase sempre o contato era feito via mensagem por texto. Em um determinado momento, enviaram uma foto da vítima com as mãos amarradas e com um capuz na cabeça.
Segundo o delegado, as mensagens estavam sendo enviadas para a esposa e para a mãe da vítima. O nome do empresário não é divulgado por questões de segurança.
— Eu ressalto, assim como na semana passada (no caso do empresário da zona norte de Porto Alegre), o fato do contato com a polícia. Os criminosos não sabiam que estávamos monitorando todos os passos deles e isso só foi possível porque a família nos procurou. Obtivemos elementos para identificar suspeitos, na sequência o próprio cativeiro, mas também pudemos orientar e assessorar os familiares do empresário vítima de extorsão mediante sequestro — ressalta Abreu.
No dia seguinte ao sequestro, a família seguiu recebendo mensagens de integrantes da quadrilha. Áudios com a gravação de voz da própria vítima. O empresário, em um primeiro áudio, dizia à mãe:
— Mãe, sem polícia... Eles me asseguraram que vão me deixar vivo se não tiver polícia.
Em outro áudio, desta vez para a esposa do empresário, a vítima destaca o pagamento via Pix:
— Eu estou bem, só faz o Pix, é a chance de eu ficar vivo.
Durante a gravação, um dos sequestradores pega o telefone e também fala:
— Sem envolver polícia.
Prisões e mortes
O delegado Abreu ressalta que, enquanto os sequestradores acreditavam manter contato apenas com familiares do empresário para combinar o recebimento do valor exigido, os agentes do Deic conseguiram identificar um suspeito. O homem foi preso e informou onde seria o cativeiro. O local era uma casa na cidade de Portão, também no Vale do Sinos.
Por volta de 21h30min do dia 27 de dezembro do ano passado, o Deic invadiu a residência onde o empresário era mantido refém, dentro de um banheiro. Houve confronto. Os policiais foram recebidos a tiros e revidaram.
Dois sequestradores morreram. Eles foram identificados como: Anderson de Castro Rodrigues, 34 anos, e Adriano Ávila Saraiva, 39. O primeiro tinha antecedentes criminais por tráfico e associação ao tráfico. O segundo tinha duas passagens pela polícia por tráfico de drogas. Nenhum policial ficou ferido na invasão ao cativeiro.
Um outro suspeito foi preso na ação. Um quarto envolvido no delito, que seria responsável pela negociação do resgate, foi identificado, mas fugiu. Ele usava uma tornozeleira eletrônica que, segundo monitoramento, foi rompida após a fuga.
Investigação
Abreu conta que um inquérito foi instaurado e todos os suspeitos envolvidos foram identificados. A polícia chegou ao número de 10 sequestradores. São nove homens e uma mulher. Além dos dois presos ainda durante o sequestro e dos dois mortos no confronto com os agentes, mais cinco suspeitos foram identificados. O apenado com tornozeleira que fugiu segue foragido.
— Mais cinco criminosos foram identificados durante a investigação. Foi através de análise e da quebra de sigilo de dados deles. Assim, novas prisões foram deferidas e operação foi deflagrada para cumprimento das prisões preventivas e das buscas. Foi uma pronta resposta da polícia — destaca o diretor da Divisão de Investigação Criminal do Deic, delegado Eibert Neto.
Há, ainda, um 11º investigado ligado ao grupo, segundo a polícia. É um homem, de 32 anos, que foi preso em São Leopoldo durante a investigação. Ele seria responsável por receber o dinheiro do resgate. O delegado acredita que ele depositaria os valores em várias contas bancárias para dificultar a investigação e também para a lavagem do dinheiro. Apesar de não ter ocorrido o pagamento do resgate, os sequestradores conseguiram acessar aplicativos de banco da vítima e transferir cerca de R$ 60 mil, que estariam sendo movimentados por este suspeito.
Para pedir ajuda
Em caso de sequestros, o Deic disponibiliza os seguintes contatos para familiares de vítimas:
- Disque-denúncia: 0800-510 2828.
- WhatsApp e Telegram: (51) 98444-0606.