O engenheiro José Múcio Monteiro deve ser ungido para o comandar o Ministério da Defesa no governo que assume em 1º de janeiro. Só falta o anúncio, confidenciam fontes do setor. Ex-deputado por Pernambuco durante várias legislaturas, ex-secretário de Relações Institucionais do segundo governo de Lula, ex-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), é considerado um político habilidoso, não ligado à esquerda e, por isso mesmo, palatável às cúpulas militares, sempre avessas à essa ideologia.
O perfil conciliatório de Múcio é elogiado tanto por integrantes do futuro governo, como o ex-ministro Jaques Wagner (PT), como por militares que integraram ou integram o governo Bolsonaro. É o caso do general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro de Bolsonaro e hoje desafeto do bolsonarismo, e do próprio vice-presidente da República, general Hamilton Mourão.
Caberia a Múcio desatar os nós que permeiam a linha entre Lula e os militares. Um deles é a proposta, feita por um grupo da transição, de acabar com o modelo de Colégios Militares, que ganharam grande impulso na gestão Bolsonaro. Desagradaria muito às Forças Armadas. Outro é a questão previdenciária, que os militares querem manter como está (com condições de aposentadoria bem mais favoráveis que a dos civis). Um terceiro tema espinhoso é o que fazer com os mais de 6 mil militares em funções gratificadas no governo federal.
É provável que Múcio, caso confirmado, evite esses assuntos num primeiro momento. A ideia é esperar o ambiente desanuviar. Mas decisão tomada é que os militares bolsonaristas com cargo de confiança não devem permanecer no governo. Os demais temas são passíveis de discussão.
E quem serão os chefes das Forças Armadas? Para evitar marolas desnecessárias, é provável que sejam escolhidos os mais antigos para comandar cada força. Nesse caso, o novo comandante do Exército seria o general Julio Cesar de Arruda (atual chefe do Departamento de Engenharia e Construção), a Marinha seria chefiada pelo almirante Renato Rodrigues Aguiar Freire e a Aeronáutica, pelo brigadeiro Marcelo Damasceno. Estes dois últimos ocupam, atualmente, a chefia do Estado-Maior.
São nomes que não dizem nada para a maioria das pessoas, mas sinalizariam um apreço de Lula pela tradição, tão apreciada nos quartéis. Há simpatias ao petismo nas Forças Armadas? Pouquíssimas. A maioria absoluta dos militares votou em Bolsonaro. A grande questão que permeou os últimos meses é se apoiariam um golpe para manter o presidente no cargo ou não. Até o momento, o golpismo perdeu. A meta do novo governo é reconstruir pontes com a caserna e despolitizar, gradualmente, o ambiente castrense, prenhe de embates ideológicos ao longo dos últimos quatro anos.