A revelação de que um grupo de empresários muito conhecidos prega golpe militar, caso Lula vença as eleições, motivou uma sondagem deste colunista a alguns integrantes do oficialato das Forças Armadas. Eles asseguram terem sido pegos de surpresa. Não escondem que estão com Jair Bolsonaro, por opção ideológica mesmo. Mas daí a impedir a ascensão de um presidente eleito vai um passo gigante, que os consultados não se mostram dispostos a dar. É inclusive crime, contra a Constituição.
As intenções de impedir Lula de chegar ao Planalto foram mostradas em reportagem de Guilherme Amado, do site Metrópoles, de Brasília. Ele teve acesso a um grupo de WhatsApp intitulado Empresários e Política, no qual alguns integrantes defendem golpe de Estado caso Bolsonaro perca as eleições. Todos são apoiadores assumidos do atual presidente. Alguns, mais exaltados, falam em disposição para uma guerra civil. Outros defendem intervenção antes das eleições, porque depois do pleito seria tarde demais. Ouvidos pelos repórteres, alguns dos empresários dizem que suas frases foram tiradas do contexto.
Entre minhas tarefas está a de monitorar o meio militar e fui sondar os ânimos a respeito das revelações do site Metrópoles. Ouvimos alguns coronéis e generais, da ativa e da reserva. Impressões colhidas ao longo deste ano (algumas óbvias, outras nem tanto):
Bolsonarismo predominante: no oficialato e seus familiares as intenções de voto para Jair Bolsonaro são predominantes. É uma identificação ideológica com valores pregados pelo presidente e, também, gratidão ao fato de ser o governo que mais prestigiou militares, reforçou seus vencimentos e os colocou em cargos-chave, talvez mais do que no regime militar (1964-1985).
Antipetismo latente: O antipetismo é forte. Em parte pelas denúncias de corrupção durante governos petistas feitas pela Operação Lava-Jato (da PF). Em parte, por ideologia antiesquerda, herdada do anticomunismo que vem desde a década de 30 do século XX (quando o militar e líder comunista Luís Carlos Prestes rebelou quartéis brasileiros e foi derrotado). A doutrina predominante nas Forças Armadas, desde então, é alinhamento ao Ocidente e repúdio a experiências revolucionárias ou pós-revolucionárias.
Desconfiança em relação à Justiça: muitos militares ouvidos acreditam que a Justiça, sobretudo a eleitoral, persegue Bolsonaro. Mas, ao mesmo tempo, os entrevistados confiam nas urnas eletrônicas (colocadas em dúvida pelo presidente).
Repúdio a extremismos: mesmo com ideologia conservadora predominante, discursos extremistas são repudiados pela maioria. Negacionismo em relação a vacinas e apelos para luta armada, mesmo contra o comunismo, são vistos com grande desconfiança. A possibilidade de uma guerra civil é um dos temores da cúpula das Forças Armadas.
Inviabilidade do golpe: mesmo entre os que torcem muito pela derrota de Lula, a alternativa de barrar a ascensão dele com um golpe militar é encarada pelas fontes consultadas como inviável, em muitos aspectos. Primeiro, porque submeteria as Forças Armadas a um desgaste e à politização definitiva (algo indesejado por militares de carreira, à esquerda ou à direita). Segundo, porque o mercado e grande parte do empresariado aposta nas urnas e não nas armas como solução para impasses. Terceiro, porque uma ditadura submeteria o Brasil a represálias comerciais internacionais. E, em quarto lugar, porque óbvio que a reação a um golpe poderia levar ao caos, talvez uma guerra civil.
Lógico que conspirações não são segredadas aos jornais, mas as fontes consultadas sempre se mostraram fieis aos fatos.
"Não vai acontecer. Os militares não querem e não precisam disso", resume um general consultado, ao saber das conversas pró-golpe reveladas pela mídia.