A presença de militares ocupando cargos civis no governo federal quase triplicou desde 2013. Os representantes das Forças Armadas estavam em 370 postos há nove anos, e passaram a ocupar 1.085 no ano passado, o que representa um aumento de 193%. Os dados são de um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Segundo o Ipea, a maior ocupação de militares aparece nos cargos de Direção e Assessoramento Superior (Das) e Função Comissionada do Poder Executivo (FCPE). Entre 2013 e 2018, a presença de militares nessas posições variou de 303 cargos para 381. Com a chegada de Jair Bolsonaro ao poder, o número chegou a 623. Em 2021, eram 742. Nos cargos de "natureza especial", considerados de primeiro e segundo escalões, a presença de militares passou de seis para 14.
O estudo do Ipea também detectou que a presença militar em cargos de confiança alterou a lógica de anos anteriores e passou a se concentrar em escalões mais altos. Entre 2013 e 2021, o percentual de militares em cargos Das de um a três, considerados mais baixos, caiu de 65% para 54,5%. Em contrapartida, a ocupação de Das cinco e seis por oficiais saltou de 8,9% para 20,5%.
Para o professor titular de Antropologia da UFSCar Piero Leirner — que se dedica ao estudo do contexto militar no Brasil —, os militares promovem, com Bolsonaro, um aparelhamento do Estado.
— Há uma militarização da política que não é recomendada em nenhum nível — afirmou.
Na avaliação do especialista, há uma inegável associação entre a atuação dos militares no governo e os resultados obtidos pela atual gestão.
Conforme os dados do estudo do Ipea, o Ministério da Economia tinha um único militar em 2013. Em 2021 eram 84 em Das e FCPE. Na Saúde, os militares passaram de sete para 40.
O Ministério do Meio Ambiente também recebeu uma grande quantidade de comissionados militares. Em 2014, era um. No ano passado, o total passou para 21. Houve ainda uma alta nas funções comissionadas da Educação, com salto de dois militares para 15. Na Defesa, o crescimento foi de 34%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.