Talvez seja o ambiente, inóspito com seus frequentes calorões acima de 40ºC, chuvas torrenciais e umidade sufocante. Talvez seja a vastidão verde, aquele mar de florestas sem fim, irrigadas (e inundadas) por córregos, grandes rios e o labirinto formado por seus afluentes. O certo é que a Amazônia não é para os fracos e, até por isso, é a região do país com mais escassa presença humana. E, óbvio, menor aparato estatal.
Porção do Brasil mais conhecida no Exterior e menos conhecida dos brasileiros, ela voltou ao noticiário mundial (se é que alguma vez saiu dele) esta semana, com o desaparecimento de um indigenista e de um jornalista que investigavam a depredação do meio ambiente.
O sertanista Bruno Pereira e o repórter inglês Dom Philips foram vistos pela última vez na manhã de domingo (5), quando percorriam de barco a região do Vale do Javari, próxima à fronteira do Brasil com o Peru. É a área do planeta com mais tribos isoladas, os chamados "índios pelados", com escasso ou nenhum contato com a civilização branca.
Bruno Pereira se dedicava a cuidar para que esses indígenas em estado puro não fossem atropelados por algumas das piores facetas do chamado mundo civilizado: garimpeiros ilegais, traficantes de drogas, madeireiros clandestinos, pescadores predatórios. Todos acostumados a saquear reservas indígenas do Vale do Javari. Dom Philips vinha se dedicando a retratar essa luta.
Tudo indica que os dois foram assassinados. Os últimos testemunhos apontam para um pescador, preso pelas autoridades, que teria ameaçado matar Pereira. Ele foi visto com armas, saindo de barco atrás da embarcação que conduzia o sertanista e o jornalista.
A se confirmar a morte dos dois (talvez nunca se confirme), a Amazônia terá demonstrado mais uma vez sua vocação para "faroeste caboclo" do Brasil. Uma região com presença rarefeita de autoridades, onde ainda vigora a lei do mais forte. Há quase 35 anos, em dezembro de 1988, o assassinato de um conhecido ambientalista amazônico sacudiu o mundo. Chico Mendes foi emboscado nos fundos da sua casa, por uma dupla que portava espingardas. O mesmo tipo de arma visto em mãos do pescador que prometia matar o sertanista Bruno Pereira e foi visto seguindo o seu barco.
A pressão mundial serviu para que os assassinos de Chico Mendes fossem presos e condenados. Em época de mundo globalizado, é pelo menos um consolo saber que o sumiço de Pereira e Philips virou notícia planetária. Talvez assim o Brasil aprenda a cuidar dos que tentam cuidar dele.