As estatísticas não deixam margem para dúvidas. Foi após a transferência dos principais líderes de facções criminosas para penitenciárias de outros Estados, em meados de 2017, que o número de homicídios no Rio Grande do Sul começou a diminuir. Mês a mês. Aquele ano, até por efeito residual da curva estatística que vinha crescendo, ainda foi o que registrou mais mortes na história criminal do Rio Grande do Sul, com quase 3 mil vítimas. Desde então, a matança começou a ser reduzida.
Os números anunciados nesta quinta-feira (9) pelo governo do Estado são impressionantes. Foram 1,7 mil homicídios em 2019, contra os 2,9 mil registrados em 2017 e os 2,3 mil do ano passado. A cada ano se mata menos no RS - oxalá, continue assim.
Hipóteses não faltam para explicar. Uma delas é o investimento governamental em tecnologia contra o crime. Isso passa por mais viaturas, por melhor armamento, por sistemas de câmeras nas ruas e estradas (cercamento eletrônico), por concentração de policiais nas 18 cidades com maior número de delitos.
A transferência de lideranças criminosas para penitenciárias de segurança máxima foi outra providência. Desarticulou os esquemas de extermínio, que vinham marcando a atuação das facções gaúchas. O auge dos cortes de cabeças foi 2016. Os líderes tinham pessoalizado muito as inimizades, com necessidade de demonstrações sangrentas de poder. É provável que os grupos criminosos tenham se dado conta que continuar a orgia de assassinatos lhes traria três consequências possíveis, todas negativas: morte, expulsão para outros Estados e perda de dinheiro.
Conversei uma vez com integrantes das três principais facções gaúchas. Dois deles admitiram a existência de acordos de repartição territorial do tráfico para evitar represálias entre os grupos criminosos. Na Capital e no Interior. As disputas regionais são mediadas por chefões estaduais, disseram. Deve estar ocorrendo, embora o governo não admita.
Aconteceu algo assim no Rio de Janeiro. As três principais facções criminosas definiram suas áreas de atuação e os homicídios diminuíram durante anos. Agora voltaram a subir por força da guerra entre milicianos e traficantes. Em São Paulo, há décadas o número de assassinatos está estabilizado ou em queda. É que o crime está concentrado numa facção, que pune homicídios com pena de morte. Os bandidos sabem que mais sangue significa menos negócios.