O juiz Sergio Moro, em sua primeira entrevista após aceitar o cargo de futuro ministro da Justiça, deixou clara uma das fontes de onde sorve suas referências de padrões morais a serem recomendados ao povo brasileiro. Lembrou que nos Estados Unidos, há pouco mais de três décadas, passou a ser implantada uma política de baixa tolerância com pequenos delitos. Mais que isso, o magistrado curitibano relatou o diálogo que teve com o dono de uma padaria que foi assaltado três vezes em um mês.
— Isso é inadmissível. O Brasil não pode se dar ao luxo de conviver mais com esse tipo de fenômeno — disse.
Moro ainda mostrou que lhe agrada a possibilidade de que integrantes de facções criminosas não sejam mais agraciados com progressão de regime (benefício do tipo sair de presídio gradeado para um albergue ou para prisão domiciliar).
— A progressão de regime é para recuperar o preso, mas aquele que deseja ser recuperado, não para o que se especializa em conviver com facção e quadrilhas — ponderou Moro.
Mesmo sem explicitar, fica claro que Moro se inspira na política de "tolerância zero" adotada em Nova York pelo ex-prefeito Rudolph Giuliani — e que, por sua vez, foi originada da teoria das Janelas Quebradas, um texto publicado em 1982 pelo cientista político James Q. Wilson e pelo psicólogo criminalista George L.Kelling, na revista Atlantic Monthly. Os autores falavam, basicamente, que se as janelas quebradas de um prédio não forem reparadas, a tendência é que os vândalos quebrem outras janelas. O prédio pode até mesmo ser invadido se estiver desocupado, como efeito do aspecto de depredação. Punir o pequeno delito, em resumo, pode prevenir crimes de maior impacto.
Moro não chegou a defender cadeia para os pequenos delitos, deixou claro apenas que deseja que sejam punidos. Ainda não antecipou sua posição, por exemplo, sobre o fato de traficantes serem muito mais numerosos nas cadeias do que os assaltantes e homicidas — algo que preocupa estudiosos da criminalidade, pelo fato de transformar delinquentes não sanguinolentos em bandidos cruéis.
Em relação a políticos, assegurou que a Polícia Federal vai investigar quem precisar ser investigado. Resta saber se Moro e o futuro governo aguentarão as pressões e chantagens dos partidos atingidos.