Não se sabe se está nos planos da Polícia Civil reconstituir a trágica morte do inspetor Leandro de Oliveira Lopes, 30 anos, atingido por um tiro quando cerca de 20 policiais cercavam uma casa para prender um foragido em Pareci Novo, em 2 de maio. As perícias indicam que ele foi vítima de um projétil que atravessou o colete balístico. Mesmo que não esteja planejado, reconstituir é preciso. Por que, apesar de a perícia ter indicado o calibre da arma que matou o agente (5.56 mm, usado em fuzil), ainda não se sabe quem atirou.
A lógica indica que Lopes foi morto por um colega. Isso porque, no local do tiroteio, estojos de fuzil só foram encontrados na parte da mata em que atuavam policiais. Os bandidos — o foragido e um parceiro que o acompanhava — estavam escondidos numa casa e, lá, só foram encontrados estojos calibre 9 mm, não utilizado em fuzil.
Como a perícia já concluiu que a munição que matou o inspetor era de fuzil, é muito provável que algum policial tenha disparado, por engano, contra o próprio colega. São acidentes que acontecem. Ainda estava escuro na hora do cerco aos bandidos e o local era de mata, propício para confusão. A operação foi planejada e cuidadosa, mas alguém pode ter corrido para o lado errado.
É sabido que alguns policiais utilizavam fuzis na ocasião, justamente calibre 5.56 mm. Com relação aos bandidos, não há essa informação. Um deles foi capturado, dias depois, numa residência onde estava escondida uma pistola calibre 9 mm, que ele admitiu ter usado. O calibre é o mesmo dos estojos vazios coletados pela perícia na casa onde os criminosos se escondiam, em Pareci Novo. O mais provável é que eles dispararam contra os policiais, mas com pistola, e não fuzil. A menos que, quando for capturado, o criminoso que fugiu apareça com um fuzil compatível com o calibre que atingiu o inspetor Lopes e, além disso, perícia balística comprove ter partido desta arma o projétil retirado do corpo.
Uma reconstituição do crime poderia elucidar os seguintes quesitos:
1) Onde cada policial estava?
2) Quem viu o colega ser baleado?
3) Por que Lopes foi atingido pelas costas? Estava na linha de tiro dos colegas (à frente de algum deles, em linha reta)?
4) Lopes ziguezagueou na mata para se proteger e foi atingido ao entrar na mira, por engano? Ou virou de costas para a casa onde estavam os criminosos que dispararam? Devem existir testemunhos.
O leitor pode estar se perguntando por que saber isso é importante, já que do outro lado estavam bandidos. É que justiça não é julgar a pessoa pelo "currículo", mas pelo que efetivamente fez. O fato de serem traficantes não indica, por si só, que foram os autores do tiro. Mais importante ainda: o colunista tem sido procurado por vários policiais que reclamam de possível falha no treinamento dos colegas e em cercos a criminosos. Elucidar a morte de Leandro de Oliveira Lopes pode, talvez, ajudar a poupar vidas de agentes em futuras ações.