O governo já havia deixado claro que medidas de socorro aos produtores do Rio Grande do Sul seriam anunciadas depois do Plano Safra — que saiu com a vigência do ciclo 2024/2025 já em andamento. Ainda assim, e apesar das avaliações positivas sobre as condições apresentadas, a preocupação com o acesso a esses recursos por agricultores gaúchos é legítima, visto que as parcelas do pacote passado foram, até o momento, apenas prorrogadas. Se por ventura não houver renegociação ou anistia, como pede esse segmento específico, isso pode deixá-los fora do sistema oficial de crédito.
Talvez tenha faltado nesta quarta (3), na divulgação em Brasília, um "carinho", uma mensagem de apoio que reforçasse aos agricultores do Estado que o pedido relacionado às prestações por pagar segue no radar da União.
— Os agricultores precisam ter condições de acessar as linhas do Plano Safra, o que só é possível com a garantia de perdão dos débitos e de uma bolsa-auxílio — destaca o presidente da Frente Parlamentar da Agricultura Familiar da Câmara, deputado Heitor Schuch.
Produtores familiares reivindicam a anistia dos vencimentos deste ano para quem foi afetado pela catástrofe climática. E também buscam um auxílio emergencial semelhante ao que foi concedido no período da pandemia.
— É eum plano robusto, mas sem anistia será inviável para o agricultor gaúcho tomar novos financiamentos. Sem isso, se perderá a oportunidade de aproveitar boas linhas e juros mais em conta — acrescenta o deputado estadual Elton Weber, que coordena a Frente Gaúcha Parlamentar da Agropecuária.
A tragédia enfrentada pelos gaúchos, com mais de 206 mil propriedades impactadas, segundo dados da Emater, foi lembrada na fala do presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Aristides dos Santos:
— Fecho, reafirmando mais uma vez nossa solidariedade ao povo do Rio Grande do Sul, em especial, aos agricultores familiares, guerreiros e guerreiras que estão no processo de reconstrução daquele Estado.
Nas condições do crédito à agricultura familiar estabelecidas para o ciclo 2024/2025, o governo deixou claro que caminha para concretizar um desejo antigo de "nacionalizar" o Plano Safra. Em outras palavras, tornar a busca pelos financiamentos mais pulverizada. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou sobre isso:
— Há um apelo antigo de não concentrar a produção em algumas regiões. Isso é paulatino, mas garantirá um Brasil com mais segurança alimentar, mesmo com as mudanças climáticas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também abordou a questão, fazendo um histórico de que as linhas do Pronaf eram "quase que tipicamente" tomadas pelo RS — o Estado é o maior tomador de recursos da agricultura familiar.
— Pode não ser tudo o que se precisa, mas é o melhor que se pôde fazer — destacou ainda Lula sobre o pacote.