A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
O agro tem uma espécie de serviço de Uber para chamar de seu. E é de abelhas. Com sede em Ribeirão Preto (SP), a startup AgroBee desenvolveu um aplicativo que une, ao invés de passageiros e motoristas, produtores de cultivos tradicionais e apicultores.
No Rio Grande do Sul, a iniciativa até agora ocorre em lavouras de canola. No ano passado, a AgroBee trabalhou em 1 mil hectares no Estado. A parceria é com a Celena Alimentos, com matriz em Eldorado do Sul, que recebe grãos e faz o seu processamento em óleo. A empresa incentiva os produtores dos quais compra seus grãos a aderirem a esse serviço.
A ideia, explica Juliano Möller, um dos representantes de vendas da startup, surgiu para incentivar uma agricultura mais sustentável. Com a polinização cruzada efetuada pelas abelhas, os produtores de canola conseguem aumentar a produtividade da lavoura em três a oito sacas por hectare e reduzir a inclusão de mais fertilizantes e tratamentos defensivos, possibilitando práticas sustentáveis que protegem as abelhas durante o período de floração. E os apicultores mantêm a sanidade dos seus enxames mesmo no inverno, quando não há produção de mel.
— Com as abelhas, e são muitas, a canola enche mais a flor, não tem falhas. A ideia é saturar a lavoura com muitas colmeias. O produtor consegue entender os benefícios desses insetos no bolso — explica Möller, acrescentando que o raio de ação do inseto chega a três quilômetros.
O contrato do serviço, chamado de polinização assistida e inteligente, começa pelo aplicativo. Ambos já cadastrados, o produtor rural encontra o apicultor mais próximo para o trabalho, que começa semanas depois. A AgroBee faz então um mapeamento da área e de risco de deriva de lavouras próximas e calcula a época exata de maior floração para saber o período para entrar com as abelhas. Das 3,5 mil colmeias utilizadas no ano passado, nenhuma foi afetada por resíduos de defensivo agrícola.
O apicultor, então, fica responsável por trazer as caixas, que são auditadas na chegada pela startup para conferir se as abelhas estão saudáveis e aptas para a polinização. A instalação é feita com acompanhamento da AgroBee. As colmeias ficam um período mínimo de três a quatro semanas buscando o pico da floração.
Neste ano, o serviço deve ser contratado em 2 mil hectares de canola no Rio Grande do Sul. Ao longo de três anos de projeto de polinização assistida de canola, mais de 5 mil colmeias de aproximadamente 100 apicultores foram utilizadas e 40 lavouras foram beneficiadas.
A AgroBee surgiu em 2018 ao receber recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp).