Produzir e gerar renda ao mesmo tempo em que se recupera e protege o meio ambiente pode parecer difícil. Mas é isso o que o município de Rio Grande vai tentar fazer a partir deste ano, e pelos próximos dois. Ao lançar o projeto Polinizando o Pampa, a prefeitura está incentivando a criação de abelhas nativas jataí próximas a unidades de conservação ambiental por produtores.
— Tentamos aliar à conservação a possibilidade de uma renda extra aos produtores — resume o secretário do Meio Ambiente de Rio Grande, Pedro Fruet.
A ideia parece simples: por serem nativas, ou seja, com ferrão atrofiado (também chamadas popularmente de "sem ferrão"), esses insetos funcionam como verdadeiros “agentes ecológicos”, explica Rosana Halinski, bióloga e dona da empresa Halinski Soluções Ambientais e Estatísticas, contratada pelo município para esse trabalho por meio de uma licitação.
— Essas abelhas conseguem fazer a polinização das espécies de plantas nativas, recuperando o ecossistema do Pampa, que atualmente está muito degradado. Aqui em Rio Grande, há uma baixíssima diversidade de flores, por exemplo. Consequentemente, o inseto faz o repovoamento de abelhas e dessas plantas — detalha Rosana.
O projeto já começou a distribuir 10 caixas com as abelhas entre os 15 produtores selecionados, cujas propriedades estão localizadas próximas à reserva da Vida Silvestre Banhado do Maçarico, à área de proteção ambiental Lagoa Verde e à Ilha dos Marinheiros. Em contrapartida, os produtores precisam participar de capacitações, receber mensalmente os pesquisadores nas suas propriedades e responder a questionários socioeconômicos e ambientais durante o projeto.
A iniciativa também contará com educação ambiental nas escolas da região, jardins urbanos e diversos materiais educativos sobre abelhas. A primeira etapa do projeto será realizada no Centro de Convívio dos Meninos do Mar (CCMAR).
E a ideia, claro, se der certo, não é parar em Rio Grande:
— Recebemos inscrições de produtores de outros municípios. O potencial de crescer para outros lugares é muito grande — avalia Fruet.
Para medir se surtiu ou não efeito, Rosana explica que o projeto será observado pela perspectiva de produção: se os produtores conseguiram colher um quilo de mel por ano e se foi comercializado.
— A abelha é bastante rústica. De adaptabilidade alta, consegue fazer ninhos em vários lugares e produz um mel muito saboroso e diferenciado. Ou seja, ótima para ser a primeira abelha a se criar — acrescenta a bióloga.
Atualmente, no Rio Grande do Sul, existem 24 espécies de abelhas sem ferrão. No Brasil, varia de 300 a 400 espécies.
*Colaborou Carolina Pastl