A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Os primeiros números da economia do Rio Grande do Sul em 2023 confirmam o que o agronegócio gaúcho já havia sentido, em campo, em relação ao peso da estiagem — e da persistência dela ao longo dos últimos ciclos, na produção agropecuária do Estado. Apesar da repetição da quebra neste verão, o impacto foi menor do que na safra anterior, quando a seca de 2022 se mostrou ainda mais severa.
A confirmação matemática apareceu nos dados do PIB referentes ao primeiro trimestre do ano, divulgados nesta quinta-feira (22) pelo Departamento de Economia e Estatística, vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG).
— Em termos de impacto, (a estiagem de 2022) foi a maior já registrada — afirmou o chefe da Divisão de Análise Econômica do DEE/SPGG e responsável pelo cálculo do PIB, Martinho Lazzari.
O que os números dizem é que, na comparação anual entre os primeiros trimestres de 2022 e de 2023, a agropecuária cresceu 13,6% no Estado. Mesmo sob efeito da seca, os resultados do PIB mostraram alta na produção de soja (+57,7%), milho (+37,8%) e uva (+19,8%) — sobretudo pela base baixa do ano anterior. Os avanços nas culturas vêm em linha oposta ao arroz, principal produto do período, que teve queda de 11,1% no primeiro trimestre. Em parte, pela área que o cereal vem cedendo para a soja no RS.
O estrago menor da última seca já havia sido cantado pelo setor. Em março deste ano, quando a Emater apontava quebra de 31% na soja e de 41% no milho por causa da falta de chuvas, a estimativa ainda era de aumento de 24% na produção do conjunto das culturas plantadas ante a safra 2021/2022 .
O agro também refletiu efeitos nas atividades ligadas à indústria, como no desempenho de máquinas e equipamentos. O segmento teve queda de 1,2% no período, em parte porque muitos produtores seguraram a compra esperando definições do Plano Safra e da falta de recursos.
O segundo trimestre do ano é o período em que tradicionalmente a agropecuária mais pesa nos dados da economia, portanto, a expectativa é de melhora significativa no dado do próximo período, embora ainda aquém do que poderia ser, frisa Lazzari. A tendência, segundo o pesquisador, é de que a entrada da soja na conta seja bastante positiva no 2º tri, e ajude no crescimento positivo do PIB no ano cheio.
— Tivemos três grandes estiagens nos últimos quatro anos. A de 2022 foi mais severa, por isso esperamos que os dados venham a melhorar — acrescentou o secretário adjunto da DEE/SPGG, Bruno Silveira.