O Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul caiu 0,7% no primeiro trimestre de 2023, quando comparado com o desempenho dos três meses imediatamente anteriores. Na relação com igual período do ano passado, entretanto, em razão de quebras na safra agrícola, houve alta de 1,7%, o que aponta para os impactos diretos da última estiagem na economia do Estado.
De acordo com os dados divulgados nessa quinta-feira (22), pelo Departamento de Economia e Estatística, vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG), o recuo é resultado de desempenhos negativos na agropecuária (-21,3%) e na indústria (-4,4%). Já os serviços apresentaram leve crescimento no período (+0,3%).
Com base na performance do país, que teve alta de 1,9% de janeiro a março deste ano sobre o resultado apurado no quarto trimestre de 2022, a atividade econômica gaúcha reflete efeitos opostos aos nacionais e que tem origem no campo.
Martinho Lazzari, chefe da Divisão de Análise Econômica do DEE/SPGG, explica que o impacto da agricultura traz essa volatilidade, que acaba por contaminar os demais setores. Segundo o pesquisador, a tendência é de que nas próximas medições haja certa recuperação. Uma das razões é o ingresso de parte da soja colhida no Estado, que diferentemente do restante do Brasil, ainda não foi inteiramente capturada pelo indicador.
Na comparação do primeiro trimestre com igual período de 2022, a agropecuária apresentou taxa de crescimento de 13,6%, puxada pelo avanço da soja (+57,7%), milho (+37,8%) e uva (+19,8%). O resultado positivo se justifica pela menor intensidade da estiagem de 2023, em relação aos três primeiros meses do ano passado, quando as consequências da falta de chuva foram ainda mais vigorosas.
O economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, acrescenta que o resultado melhor nessa base de comparação pode gerar estranheza, mas não significa que as “coisas tenham melhorado”:
– Significa que esse mesmo período no ano passado foi tão ruim que as coisas, mesmo que descontadas em 2023 aparentam melhoria. Esse crescimento é a medida da distância entre o ruim de hoje e o muito ruim do ano passado. Ter crescido nessa base nos retira do fundo do poço em que estamos desde o ano passado.
Entenda o desempenho da economia gaúcha
Por que o PIB do RS cai e o do Brasil sobe?
Porque diferentemente do Brasil que, como um todo, cresceu puxado pela agropecuária (+21,6%), no Estado, o efeito da safra foi exatamente o contrário (-21,3%). É o que explica o economista-chefe da Farsul Antônio da Luz, ao lembrar que uma nova estiagem fez com que o resultado da passagem do trimestre tenha piorado a situação da economia gaúcha, que já era bastante castigada pela estiagem de 2022 e sofreu os efeitos de quatro secas consecutivas.
Que outros fatores afetaram a agropecuária?
De acordo com Martinho Lazzari, chefe da Divisão de Análise Econômica do DEE, além da estiagem, outro aspecto que contribui para o desempenho negativo foi a redução da área plantada de arroz no primeiro trimestre de 2023. Segundo ele, isso trouxe impactos ainda mais negativos na produção agrícola, na comparação com o quarto trimestre de 2022, quando foi registrada uma produção recorde na safra de trigo do RS e elevou a base da comparação.
Quais as razões para a baixa na indústria?
O economista-chefe da Federação das Indústrias do RS (Fiergs), Giovani Baggio, explica que no primeiro trimestre de 2023, o desempenho do setor industrial no Estado é fruto de uma desaceleração que se inicia no ano passado, provocada por aspectos como juros elevados, diminuição da confiança dos empresários e retração dos investimentos. Além disso, destaca que a paralisação das atividades de refino na Refap e as férias coletivas na GM também frearam o setor.
O que explica a performance nos serviços?
Mesmo com a leve alta dos serviços, a economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, lembra que o crescimento não ocorreu na mesma proporção da média brasileira (+0,6%). Segundo ele, atividades como transportes, armazenagem são bastante vinculadas com a demanda que chega do agronegócio e da indústria. Com esses segmentos em baixa, o setor de serviços também acaba por sofrer os reflexos associados com atividade econômica.