As jornalistas Bruna Oliveira e Carolina Pastl colaboram com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Alívio, mas nem tanto. Aguardado com a expectativa de uma cifra robusta, o anúncio do Plano Safra de R$ 364,2 bilhões, lançado nesta terça-feira (27) pelo governo federal, foi recebido com ressalvas e ponderações pelas entidades representativas do agronegócio gaúcho. Primeiro, pela quantidade de dinheiro disponibilizada, ainda que 27% maior, — o valor especulado superava R$ 400 bilhões, mas uma parcela ainda será anunciada nesta quarta-feira (28) para a agricultura familiar. Segundo, pelas condições postas na mesa, como a taxa de juros contratada.
No Rio Grande do Sul, a ansiedade pelo anúncio tinha o contexto local como pano de fundo, depois de mais um ano marcado por perdas econômicas em decorrência da estiagem no verão e de dois planos safra subsequentes em que o recurso se esgotou antes do encerramento do ano agrícola.
Na avaliação do economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz, a participação federal no programa recém lançado "foi bastante modesta", seja na subvenção de recursos, seja na equalização de juros, “como foi nos últimos planos safra”.
Da Luz cita como exemplo o recurso disponibilizado para custeio e comercialização para 2023/2024. Dos R$ 272,12 bilhões em jogo, apenas R$ 52,55 bilhões são subvencionados. Ou seja, 81% do total não receberá recurso público.
O receio é de que a falta de subvenção repita a situação dos últimos dois anos, em que o recurso do pacote esgotou antes da hora. Para Da Luz, é o que vai acontecer:
— Não se tem recurso orçamentário. Por mais que haja boa vontade do governante, não se pode tirar dinheiro da educação para colocar no agronegócio. Por isso mesmo que as pessoas têm buscado alternativas.
É o que teme também Claudio Bier, presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul (Simers), um dos segmentos do setor que mais depende dos recursos do Plano Safra.
— Não é o que se esperava. Mas é difícil conseguir tudo o que se quer. Só o fato de ter a verba dá um alento aos agricultores que estavam esperando por isso — pondera Bier.
Vendo “o copo meio cheio”, o dirigente cita o momento em que o recurso chega. A “boa hora” casa com a entrada ao segundo semestre do ano, período em que os produtores costumam sair às compras para adquirir os equipamentos para o plantio da safra de verão, como plantadeiras e pulverizadores.
Ainda sobre o contexto gaúcho, Da Luz diz que o anúncio ficou devendo uma sinalização ao parcelamento dos débitos dos produtores atingidos pela estiagem. “Gera grande preocupação, uma vez que os gaúchos são os maiores tomadores desses recursos e, sem esse parcelamento, deverá diminuir o número de produtores aptos”, escreveu em nota.