A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Novas regras para o uso de drones na agricultura entraram em vigor no início de maio, abrindo caminhos para que a tecnologia, literalmente, alcance mais voos no campo. As mudanças foram definidas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e simplificam o licenciamento dos equipamentos pelo produtor rural.
Vanderlei Prezotto Pinheiro, instrutor de campo do Senar-RS, explica que a nova normativa estabelece que qualquer drone, independentemente do peso máximo de decolagem, se enquadre na chamada classe 3, ou seja, passe a ser assistido pela mesma norma que os drones convencionais. Antes, o uso dos equipamentos seguia algumas diretrizes aplicadas aos aviões agrícolas.
Na prática, isso simplifica o licenciamento de equipamentos com mais de 25 quilos no momento da decolagem, o que inclui drones operados na dispersão de fertilizantes e de defensivos sólidos, por exemplo. A regra vale para os drones operados em linha de visada (que podem ser observados) ou em voos mais distantes, com acompanhamento.
O Ministério da Agricultura salienta que as alterações valem para drones operados somente em áreas desabitadas, como é o caso das lavouras no meio rural. Além disso, os voos não podem ultrapassar 400 pés, ou seja, 120 metros de altura.
Para Prezotto, a normativa traz maior facilidade de operação dos equipamentos. E o avanço tecnológico a partir dela, diz, será ainda maior do que o que já está sendo observado hoje.
— Certamente, o potencial dos equipamentos vai trazer muitas oportunidades de ganho. Ganho de eficiência, redução de custos e assertividade em relação ao que se praticava até então. Já era uma tendência que vinha crescendo e, a partir da normativa, a ideia é que realmente seja um novo tempo para o campo. Acredito que vamos ver muito drone voando sobre as nossas lavouras – antecipa o instrutor.
Equipamentos de todos os tamanhos têm se popularizado nas propriedades. Segundo o profissional, as pesquisas mostram que entre 50% e 60% dos produtores estão pensando em adquirir um drone nos próximos anos.
Gabriel Colle, diretor-executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), diz que a nova normativa dá capacidade de crescimento ao setor de forma mais ordenada. E a possibilidade de desenvolver mais pesquisas de desenvolvimento na área.
— É uma modernização e estávamos ansiosos esperando por isso. A inovação já tinha acontecido e a legislação ainda não. Na prática, coloca na legalidade grande parte dos drones que já operavam e já estavam no mercado porque a lei que estava em vigor pegava só os drones menores — diz Colle.
O diretor-executivo diz que o uso do drone na agricultura hoje é “uma super realidade”. O crescimento exponencial nos últimos anos tem gerado, inclusive, dificuldade de se ter números exatos do tamanho do setor. Atualmente, são 20 empresas relacionadas à tecnologia associadas ao Sindag, e a expectativa é de que passem de 100 a partir das novas regras.
— O Brasil é uma referência. Ninguém no mundo tem uma legislação de drones como a nossa. Ela resolve muita coisa, e o grande avanço que falta agora é nas políticas públicas para pesquisa com aplicação, que ainda é muito carente — acrescenta Colle.
A novidade da normativa esteve entre os assuntos mais comentados durante a DroneShow. A feira é uma das maiores de drones do mundo e reuniu indústria, órgãos reguladores e produtores em São Paulo, na semana passada. A tendência é de que, a partir da normativa, as fabricantes invistam em mais modelos voltados especificamente para o agronegócio.