A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Os drones agrícolas são uma realidade cada vez mais presente no campo. E o uso deles nas lavouras abre mercado não só para quem utiliza a tecnologia, mas também para quem forma esses pilotos. Para Matias Lazarotto, que atua como instrutor de drones para a agricultura, um dos maiores desafios da atividade é quebrar o paradigma de que é difícil lidar com a tecnologia.
Segundo o profissional, apesar dessa barreira, os drones tendem a atrair cada vez mais adeptos, e os motivos são as vantagens que o equipamento traz. Além de eliminar o amassamento nas lavouras, o drone traz uma economia de insumos utilizados pelos agricultores.
– Hoje, temos mais produtores rurais adquirindo drones do que prestadores de serviços. Porque a vantagem é muito grande. O drone é muito mais em conta se comparado aos demais implementos utilizados para fazer aplicação. E essa evolução vai ser natural – diz.
Conheça mais sobre a atividade do profissional:
Como você entrou no mundo dos drones?
Eu venho do agro, meus pais são pequenos agricultores na região de Frederico Westphalen. Me formei em Sistemas para Internet na Universidade Federal de Santa Maria e com isso vieram novas possibilidades. Fui evoluindo no setor de TI, me especializando na área de robótica, de perícia forense computacional, e depois ainda no ramo de manutenção bancária. Nesse meio tempo, comecei a atuar com a DJI, que é líder mundial do segmento de drones. Iniciei com a linha enterprise, que são os drones menores para filmagens, fotos... e surgiu a possibilidade de trabalhar com a linha de drones de pulverização, que era um mercado novo. Me capacitei tanto na manutenção dos equipamentos quanto na formação de novos pilotos. Hoje sou instrutor habilitado pela DJI no Brasil. Em janeiro, fundamos a escola DJI Academy Brasil e no final de março teremos a primeira turma de pilotos que vamos formar no país.
Como funcionam os treinamentos?
Capacitamos o aluno em relação ao fabricante, ou seja, formamos o piloto baseado nas diretrizes que a própria fabricante determina, voltadas para a linha dela, e junto a isso, como já tenho um conhecimento de agro no Brasil, fazemos um somatório. Em 2021, o Ministério da Agricultura lançou uma normativa na qual se delimitou como funcionariam os parâmetros agronômicos voltados para os drones de pulverização. Esses parâmetros resultaram no CAAR, que é um certificado que habilita o piloto a poder mexer com produto químico, como aplicar, uso de EPIs... todos os processos para que se possa operar um drone e fazer uma aplicação de qualidade e com segurança. Então juntamos o CAAR com a formação da DJI e damos um curso completo dentro da escola. São vários módulos.
Em quanto tempo é possível estar apto a pilotar um drone?
O curso de formação tem a duração de sete dias. Tem a etapa do CAAR, uma parte em EAD, e dois dias de prática para executar a aplicação.
Quais são as dificuldades iniciais?
Na verdade, as principais dificuldades são os paradigmas. O produtor rural de idade mais elevada tem o receio de achar que, por ser muito tecnológico, não vai conseguir mexer e se adaptar. Hoje, se pararmos para analisar, a inclusão digital já aconteceu em um percentual muito grande de agricultores ou de pessoas de faixa etária avançada. Fizemos uma quantificação e o produtor rural com 60 ou 70 anos já utiliza telefone celular, mexe no WhatsApp... ele se vira, vamos dizer assim. Tivemos um caso específico em que treinamos um produtor gaúcho de 65 anos. Ele recebeu o drone na terça, e na quinta e na sexta-feira pulverizou 290 hectares. Um produtor que teve uma grande capacidade de se desafiar e conseguiu suprir uma carência que tinha. A tecnologia é uma solução, e não um empecilho.
Que detalhes o agricultor precisa atentar antes de comprar um drone?
O primeiro ponto é o tamanho da área e a declividade, a quantidade de obstáculos, e muito além disso, estudar o mercado e buscar por empresas que ofereçam bom suporte técnico e manutenção. Porque se por acaso o produtor tiver algum problema, ele precisará de uma solução rápida para voltar a aplicar. Se quebrar o drone e não tiver o suporte, que vantagem ele tem? Vai ficar com o drone parado, não vai ter como aplicar e os benefícios vão por água abaixo. Não é só comprar o equipamento e achar que ele vai fazer tudo sozinho. O drone não é para amadores, é para profissionais.
Os drones são recomendados para alguma finalidade específica na agricultura?
Hoje, a principal função é a aplicação agrícola, a pulverização. Tanto em áreas totais, que são as grandes culturas como soja, milho, trigo, como também em pastagens, áreas de frutíferas e toda a linha HF (hortifrúti), que tem uma gama muito grande. O drone pode fazer uma taxa variável de aplicação, ou uma aplicação ponto a ponto. Ao invés de aplicar em toda a área, colocando produto fora, o produtor pode delimitar e aplicar somente onde tem erva daninha, ou somente na copa da árvore. E o segundo ponto onde o drone vem atuando fortemente é na dispersão de sólidos. Posso substituir o tanque de líquido colocando um tanque de sólidos, e a partir daí trabalhar em pastagens, fazer uma semeadura, espalhar adubo.
Além da redução do amassamento, que outros ganhos a tecnologia traz?
Eu costumo dizer que o drone de pulverização trouxe algo muito concreto: pela primeira vez na história da agricultura, o produtor vai conseguir colher 100% da área que plantou porque não existe amassamento. No mercado nacional, falando na aplicação variável ponto a ponto, se for utilizar um herbicida, pode-se ter uma economia de até 93% de produto. É uma redução muito grande. Ao invés de fazer aplicação na área total, o produtor pode pulverizar somente onde há necessidade.
Quanto um produtor que quer iniciar no uso de drones precisaria investir?
Temos dois modelos da DJI para pulverização comercializados no Brasil, com capacidade para 10 e 30 litros. O modelo menor está em torno de R$ 115 mil, com a formação do piloto inclusa nesse valor para fazer a aplicação. Com o menor, ele já consegue cobrir uma área total de cerca de 50 hectares por dia.
O que ainda pode evoluir nessa tecnologia?
Acredito que as próximas evoluções talvez atendam a uma questão de área. Teremos modelos que poderão fazer uma quantidade maior de área, ou seja, um rendimento ainda maior do que já temos, e com modelos mais assertivos. Um segundo passo, que acredito que não passará somente pelos drones, mas por toda a tecnologia, é a questão de baterias, com utilização de novos elementos, como o nióbio ou o grafeno, para ter maior durabilidade e não perder energia para o ambiente externo.
Enquanto isso, acredita que os drones estarão cada vez mais presentes nas propriedades?
Nossa estimativa para esse ano no Brasil é de 500 unidades comercializadas de drones de pulverização. A expectativa para o próximo ano são 2,5 mil unidades. Hoje, temos mais produtores rurais adquirindo drones do que prestadores de serviços. Porque a vantagem é muito grande, o comparativo de preço com o mercado atual é muito discrepante. O drone é muito mais em conta se comparado aos demais implementos utilizados para fazer aplicação. E essa evolução vai ser natural. Um equipamento maior, para um produtor que tenha área acima de 200 hectares, se paga em uma safra considerando a redução do amassamento e o consumo do diesel. E tem muitos produtores de áreas pequenas que fazem o cálculo e na hora de comprar o equipamento escolhem um tamanho maior para fazer a sua área e ainda prestar serviço para as propriedades vizinhas.