A inovação e a tecnologia ganham a companhia de uma beleza ímpar no parque da Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque, norte do Estado. Os jardins de flores que enchem os olhos de quem visita a feira são cuidadosamente preparados, há 15 edições, pela especialista em jardinagem Anegrid Lucila Gnich dos Santos. Natural de Victor Graeff, Ane, como é chamada, encontrou no trabalho com as plantas uma carreira e conta como é cuidar dos espaços ao longo de 98 hectares.
Você sempre trabalhou com jardinagem?
Sempre trabalhei na lavoura. Não tive irmãos homens, e eu era a que ajudava o meu pai. Fiz carteira para caminhão, inclusive. Na época, fui uma das primeiras meninas com carteira para caminhão na região. E sempre tive essa coisa de não ficar acomodada. Quando meu filho Emerson nasceu, percebi que, além de ficar no Interior, queria fazer algo a mais. Não que não fosse importante o trabalho dentro de casa. Um dia, a minha mãe, que sempre teve muita dedicação no jardim, conversou com um agrônomo e ele disse: “Por que vocês não começam a produzir flores?”. Falei para minha mãe que não sabia cuidar nem de uma samambaia. Porque, até então, eu gostava e me dedicava mesmo à lavoura. Mas chegou em um ponto que tive de fazer alguma coisa. Pensei: “Vou tentar”. E começamos a produzir flores dentro de copos plásticos recolhidos em um camping próximo. Eu lavava-os e comecei a produzir flores com o jardim que a minha mãe tinha.
Foi aí que passou a investir na atividade?
Naquele momento, há 22 anos, começamos a produzir flores. Não tive um planejamento, as coisas foram acontecendo e, conforme aconteciam, fui querendo mais. Hoje está nessa proporção.
Como começou a participação na feira?
Chegou a um ponto que percebi que só produzir as flores para vender nas floriculturas não era tanto o que eu queria. Tive um outro olhar, dos jardins, de fazer para os clientes. E aí surgiu a Expodireto. Lembro que fomos visitar uma das feiras e me chamou a atenção que algumas coisas não estavam tão bonitas quanto deveriam para uma feira como a Expodireto. Fui conversar com o Marlon Alves, então administrador do parque. Falei que fazia esse trabalho com jardins. Tínhamos feito um em uma empresa de Tio Hugo bem grande. Acho que ali o pessoal começou a perceber que nosso serviço era diferenciado.
A Cotrijal nos contratou e começamos o trabalho.
Quando precisa selecionar flores para um espaço, que critério usa para a escolha?
Em primeiro lugar, o ambiente: se tem sombra, sol direto, geada. Cada jardim é uma experiência nova, um ambiente diferente, o terreno é diferente, microclima... E tem, principalmente, o gosto do cliente. Cada um tem suas origens, costumes, a realidade do seu dia a dia. São muitas coisas para analisar. Na Expodireto, minha maior preocupação é o quanto vai ficar florido. As plantas têm de estar bonitas na semana da feira, não adianta antes nem depois.
Você cultiva as plantas ou trabalha com fornecedores?
O que posso produzir eu faço. Por exemplo, para a feira agora, as flores de época, que são aquelas coloridas, as mudinhas de tagete, tagetão, sálvia, celésia, essas produzimos. Compro plugs com as mudas, é feito o transplante aqui em casa nas estufas e todo o acompanhamento até plantar no parque. As mais perenes, tenho fornecedores porque não consigo dar conta de produzir tudo aqui.
Que características uma profissional que trabalha com jardinagem precisa ter?
Em primeiro lugar, muito amor às plantas. Não pode se importar se, quando está lidando com as plantas, é muito frio, muito quente, se vai se sujar... É um trabalho que exige bastante do físico, é no sol, na chuva, no frio. E, para trabalhar com jardinagem, tem de ter uma visão, que não se adquire só com cursos, lendo, olhando imagens, mas fazendo, errando, corrigindo, aprendendo.
Qual o maior desafio e qual a maior gratificação?
O maior desafio é conseguir dar conta de atender todos clientes bem. Não adianta terminar ligeiro esse jardim para atender o próximo e fazer mal feito. Faço mais devagar, mas bem feito. A mão de obra está bem complicada, tem cada vez menos. E a gratificação é ser reconhecida pelo bom trabalho que fez. Ou ver o olhar de satisfação do cliente com o jardim. Tenho uma satisfação muito grande de dizer que moro no meio da lavoura. Temos as estufas no meio da lavoura, estamos em um lugar bem retirado, e nem por isso deixei de ter minha empresa, de fazer o que queria e ser reconhecida em vários municípios. E acredito que a gente acaba sendo uma referência para muitas mulheres da região. Quero ser referência para que as mulheres vejam que é possível trabalhar com o que se gosta, realizar um sonho, correr atrás e não desistir nas dificuldades. Foram muitas dificuldades que passamos nesses 22 anos. Mas nunca desisti.
Quando começa a preparação do jardim para a próxima Expodireto?
A ideia é começar a partir de abril. Ajustar em relação à próxima feira, plantas permanentes nos canteiros, o que vai ficar, permanecer igual, o que vai mudar. Esse tipo de trabalho tem de ser feito em abril porque muitas plantas já vão para os canteiros no final de novembro, início de dezembro. Essas flores mais anuais vão para o canteiro muitas vezes em dezembro e, até lá, tem que estar tudo pronto.
A parte de muda, poda, transplante tem de estar mais organizada. Há os funcionários dentro do parque que fazem esse trabalho durante o ano. Eu e minha equipe entramos para fazer o plantio das flores anuais, em dezembro. Mesmo assim, tenho o compromisso com o pessoal do parque de fazer esse acompanhamento, orientar, ver como vai ser feito, o que vai ser mudado.