A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
O setor que mais gerou empregos no agronegócio gaúcho em 2021 é visto como pujante até mesmo para quem já está nele. Engenheira eletricista de formação e engenheira de manufatura na John Deere, Sandra Vasconcelos iniciou na fabricante de máquinas como técnica há 14 anos e viu as oportunidades se abrindo a cada curso novo que incluía no currículo. Hoje, ela atua no dia a dia do chão da fábrica em Horizontina e é responsável por todo suporte que envolve a automação da planta. Um trabalho que é feito no detalhe, conta.
Com mais de 700 mil metros quadrados e mais de 2 mil colaboradores, a unidade em Horizontina é responsável por abastecer o Brasil e o mundo com colheitadeiras de grãos, plantadeiras e outras plataformas. Produção que exige ainda mais profissionais capacitados para acompanhar o andamento da tecnologia.
Conheça um pouco da trajetória da profissional:
O que você estudou e como chegou à função?
Me formei no curso técnico em eletrotécnica no CEFET, em Pelotas. A John Deere divulga nas universidades e escolas as oportunidades, a gente se inscreve para o processo seletivo e foi dessa forma que fui chamada e comecei na empresa. Passei por um tempo de experiência de três meses e fui contratada para manutenção. Com o passar do tempo na manutenção, eu sentia necessidade de ter o conhecimento de automação, em linguagem de programação, e então comecei um outro curso técnico, de automação industrial pela UFSM, de Santa Maria. Fiz o meu estágio na própria área de manutenção, automatizando processos. Depois, comecei a conhecer outras áreas da empresa, então nasceu uma vontade de trabalhar na área de engenharia e comecei a fazer um curso de Engenharia Elétrica na Unijuí, em Santa Rosa. Levei seis anos e meio para me formar.
A aproximação com a área veio então antes mesmo da formação na engenharia.
Isso. Começou porque eu tinha o curso de eletrotécnica, que é uma formação para trabalhar como técnico em elétrica. Comecei a trabalhar na John Deere na manutenção e fui direcionada para a área elétrica pela formação. Mas fazia outras atividades e aprendi muitas outras coisas também.
O mercado mostra que tem oportunidade para quem começa pelo técnico...
Sim. Em Pelotas, não tinha Engenharia Elétrica na UFPel, ainda. Só na Católica, então era paga. Eu não tinha condições de pagar, então comecei a fazer o técnico. Um curso técnico é a forma mais fácil e rápida de entrar no mercado de trabalho. Eu não tinha condições de fazer uma engenharia na época, até mesmo porque não tinha na universidade pública.
O que você desenvolve na fábrica?
Hoje, estou trabalhando na manufatura. Mas antes disso, trabalhei na manutenção por dez anos e meio.
O que é a engenharia de manufatura?
A minha posição é dar suporte direto na produção, no chão de fábrica, nos processos de montagem. Por exemplo: preciso de um dispositivo para montar tal parte de um produto, preciso de uma máquina para abastecer óleo, preciso de uma ferramenta para determinada montagem... A gente descreve todo o processo. Tudo tem um tempo e está descrito em um sistema que mostra para os operadores no chão de fábrica como eles devem e o que devem montar para cada modelo. A gente suporta o pessoal nisso. Também suportamos questões de segurança, de melhorias contínuas na fábrica em relação a melhorias na produtividade, na qualidade. Puxamos o que os operadores e os montadores vêm. Eles abrem trabalho para nós buscarmos investimento para implementar.
Como é a rotina no dia a dia da fábrica?
O dia passa e eu não vejo. É muito dinâmico, com bastante atividades e todo dia uma coisa diferente. Por exemplo, agora estamos enfrentando a questão da covid-19 e precisamos estar nos ajustando ao cenário a cada dia. Nesse momento não tenho essa peça, então temos que buscar alternativas junto com a engenharia de produto. Montar, ver se essa peça pode sair, se essa peça precisamos retrabalhar. Tem toda uma análise. Temos máquinas integradas por toda a fábrica. Se apareceu no sistema falha em tal código, a gente vai lá, olha o diagrama da máquina, olha o que está faltando, o que aconteceu. É um trabalho no detalhe. Hoje, eu preciso de conhecimento de elétrica, de manutenção e de manufatura. Participo em geral de tudo o que a fábrica produz. Não estou mais focada só em automação de fábrica, mas continuo dando suporte em novas implementações e integrações de fábrica e também no suporte de testes elétricos de todos os produtos.
Para você, que evoluções foram mais importantes nos últimos anos?
Vejo que aqui, e também fora, a indústria 4.0 está vindo com tudo. As indústrias hoje já estão bem tecnológicas. Da minha área fabril, o que eu vejo é que a indústria 4.0 está com tudo e é o que está vindo. É uma junção do mundo real com realidade virtual e colocamos em prática essas estratégias todas de alta tecnologia com os meios de produção. Isso traz muita inovação e controle nas etapas dos processos produtivos.
Qual a importância para o setor?
Vejo que a tecnologia é muito importante e só vem a ajudar e facilitar para todo mundo. Beneficia muito porque vai ter mais áreas flexíveis e ambientes mais seguros e eficientes. O produto vai sair com mais qualidade, com o controle feito em tempo real de todas essas máquinas. Todos os equipamentos podem estar conectados e conseguimos fazer relatórios, associar e melhorar. Com tudo isso vamos tendo uma tomada de decisão mais assertiva e mais rápida.
Em 2021, o setor de máquinas foi o que mais gerou empregos no RS. Como você vê o mercado?
Na minha opinião, tem bastante oportunidade. Vejo que está aumentando cada vez mais a produtividade, então tem bastante espaço para todas as áreas, seja a técnica, ou para quem tem a formação via Senai, ou formação de engenharias. As áreas das exatas são as que mais têm oportunidade. Claro que não é só a pessoa ter interesse, tem que ter a oportunidade. Mas, como foi o meu caso: tinha a oportunidade, queria trabalhar naquilo e já estava preparada porque tinha feitos os meus cursos. E assim é hoje. Estamos sempre tentando melhorar um conhecimento técnico, fazer cursos, melhorar o inglês, para não ficar todos os dias fazendo as mesmas coisas. Daqui a pouco surge outra oportunidade e é preciso ter uma visão de futuro.
Que aptidões você considera necessárias para entrar na carreira?
Precisa gostar de cálculos, das exatas. Ser uma pessoa dinâmica, aberta para trabalhar em grupo e querer compartilhar informações com os demais por que dessa forma se aprende também. Ser curioso, querer aprender novos processos, novas tecnologias e ler sobre isso.
Com tantas inovações no mercado, o que você que enxerga para o futuro?
Estamos sempre buscando melhorar e ter o produto mais tecnológico. Foge um pouco da minha área o produto em si, mas vejo plantas cada vez mais robotizadas. As pessoas precisam estar preparadas para operarem esses equipamentos. O técnico que vai operar não é mais puramente mecânico. Tem que saber se está aplicando o software certo para determinada peça. A tecnologia por si só não basta. Precisa de alguém para desenvolver e alguém para manter isso. Na minha opinião, não vai gerar desemprego. A única coisa que vai mudar são as qualificações e as exigências.