A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Com o período de colheita da safra de verão se aproximando, começam a se preparar para entrar em campo, literalmente, profissionais indispensáveis para retirar da terra o resultado de um ciclo inteiro de trabalho. São os operadores de colheitadeiras, importantes para conduzirem o maquinário agrícola com destreza e garantirem que o alimento chegue à mesa. Em anos de estiagem severa como a que aflige o Rio Grande do Sul, a execução perfeita do trabalho é fundamental para minimizar as perdas.
Os equipamentos cada vez mais modernos são realidade no mercado, e entidades como o Senar-RS dão um passo à frente oferecendo cursos que atualizam os trabalhadores rurais para as inovações tecnológicas. Aluno de uma dessas iniciativas, o operador Marcelo Duarte, que pilota desde os 18 anos as máquinas na Fazenda Pangaré, no distrito de Bacupari, em Palmares do Sul, contou à coluna como é a rotina de colher o resultado da plantação e a importância de tirar do equipamento o melhor desempenho possível para gerar produção.
Confira na entrevista a seguir:
Como começou a sua relação com o campo?
O meu pai sempre trabalhou na lavoura e comecei ainda pequeno acompanhando. Na época, podia começar com 16 anos. Estava na escola, mas sempre pensando em ir para a lavoura. Nas máquinas, comecei dirigindo os tratores, e as colheitadeiras eu opero desde os 18 anos.
Qual a sua função no campo?
Eu trabalho em uma propriedade, sou trabalhador rural. Opero colheitadeira, trator para preparar as terras, também cuido da lavoura na aguação. São fases e tempos separados, então nos dividimos nas atividades. No inverno é uma coisa, nessa época de agora é como aguador e depois na fase de colheita fico nas colheitadeiras. O forte é o arroz, mas a soja está evoluindo. Plantamos na lavoura de arroz, aí vai as dosagens de veneno. Além de fortificar, ela limpa a terra, matando o inço.
E como você se tornou um operador de máquinas?
Comecei trabalhando de ajudante, olhando os outros. Com o tempo fui ocupando uma vaga e foi indo. Sempre tive interesse por querer melhorar a lavoura e o gosto por cuidar da máquina.
Os cursos vieram com o tempo? Como foi a experiência no Senar-RS?
Foi a empresa que nos proporcionou, é um curso específico para operadores, e os quatro operadores da fazenda fizeram. O professor veio na propriedade e nos instruiu, trouxe muita bagagem. Tocou também em uma preocupação de todos, que é a gente se cuidar enquanto trabalhador, não se machucar, saber o jeito certo de lidar com a máquina. Antes, não se dava bola para muitas coisas, os mais velhos não usavam nem luva, agora usamos tudo. Gostamos também que uns ajustes que dão para fazer na máquina são simples e que não tínhamos conhecimento. Isso tudo ajuda a diminuir as perdas na produção.
Os equipamentos hoje em dia estão cada vez mais tecnológicos. Qual a importância de se manter atualizado?
Temos que ir para dentro, estudar o manual da máquina, fazer os cursos disponíveis. A máquina aproveita mais agora. Colhe na umidade certa e mais rápido, porque colhe mais. E os cursos explicam como perder menos na lavoura, porque tudo é muito custo. O óleo está caro, e tanto o arroz como a soja gastam bastante para produzir. Saber usar se resume a melhor aproveitar em tudo, até o óleo diesel: quanto mais certo usar, menos vai gastar. E o Senar trabalha bastante em cima disso, em diminuir as perdas. A maior queixa dos produtores é a perda de produção, o produto estar pronto na lavoura e passar fora da máquina.
Como é a rotina em época de colheita?
Começamos às 7h30 e vamos para a volta das máquinas: a gente limpa, revisa se tem alguma peça fora, faz a manutenção e a higiene delas. É uma função básica de operador. Depois, quando seca o sereno e a umidade vai embora, começamos a colher, paramos só para almoçar e seguimos até enquanto o sereno não cai. Ocupa o dia todo, às vezes vai até nove da noite. Agora com a soja expandiu mais um pouco, mas o arroz vai uns 40 dias e mais uns 20 dias na soja, que é mais rápida. São quatro colheitadeiras e quatro operadores na fazenda, mas tem os tratoristas também, é bastante gente, mais a função de tirar o arroz e levar até o engenho, e lá no engenho ainda outras funções.
Como você se sente fazendo parte deste trabalho?
Eu, particularmente, gosto da colheita e operar a máquina é a parte que mais gosto na lavoura. Ali em cima da máquina eu me sinto importante, gosto do que estou fazendo, estou produzindo e vendo o alimento. É o fruto do ano todo de trabalho sendo colhido. Desde que acompanhava o meu pai, sempre tive vontade de fazer isso. Mas era bem mais difícil naquela época, até pelas máquinas que eram mais brutas e inferiores. Tinha que olhar mais de longe, às vezes podia dar uma voltinha. Mas sempre tive vontade. Quando pude ir, que foi liberado, só fui em frente. Mas tem que ser para quem gosta porque judia bastante do corpo, tem horário, tem dia que está mais cansado, não tem fim de semana muitas vezes.
Como vê o futuro da profissão?
Temos que ficar por dentro. Não pode ficar para trás, tem que fazer cursos e tudo o que aparecer de novo para se atualizar. Até porque para o pessoal do campo está difícil, às vezes não se acha funcionário. Os patrões tem que valorizar quem tem de bom, porque tudo agrega em conjunto. Até para seguir aumentando a produção. A máquina boa ajuda, ela sabe tudo o que está fazendo, onde está mal, onde está certo, marca tudo.
Pelo seu olhar para o campo, o que imagina para a próxima colheita, com uma estiagem tão severa?
Acho que a produção vai ser menor. E aí entra mais ainda a importância de a máquina colher bem para não perder nada. Tem que saber aproveitar. Tudo varia muito de ano para ano.