O economista está para a renda do produtor rural como o agrônomo para a produtividade no campo. Saber organizar contas e tornar a atividade financeiramente viável é tão importante como ter água para hidratar plantas e animais. Aliás, é em anos de boas safras e preços que o papel desse profissional é ainda mais importante, para que a tomada de decisão seja feita de forma racional, pondera Danielle Guimarães, que integra o time de assessoria econômica da Federação da Agricultura do Estado (Farsul). Nessa entrevista, ela conta um pouco da trajetória e das habilidades para atuar no setor.
Sua ligação com o agro é anterior à escolha da carreira?
Nasci em Porto Alegre, mas minha família é de São Borja, na Fronteira. Tenho tios e primos que são produtores. Então, tive um contato desde sempre com o setor, mas não era algo que achasse que fosse trabalhar com. A aproximação veio quando fiz meu estágio na Federação da Agricultura do Estado, dentro da assessoria econômica (é formada em Ciências Econômicas na PUCRS e mestre em Economia Aplicada na UFRGS). Foi aí que começou a ligação profissional.
Que papel tem o economista que atua no setor?
Assim como o do agrônomo é ajudar a produzir mais, o do economista é rentabilizar mais a atividade. Na Farsul (em março, completará nove anos na entidade), a assessoria econômica serve ainda como braço técnico, que ajudará a diretoria a tomar decisões. Aplicamos teoria econômica e métodos quantitativos para auxiliar em relação a políticas públicas que podem afetar o setor. E temos o papel de levar a informação econômica para o campo, em palestras ou com dados e indicadores. Um exemplo é o índice de inflação do agronegócio (mensal). E, em 2021, lançamos o big data, banco de dados.
Qual a importância dos números na atividade?
São extremamente importantes para que seja viável economicamente. E há os dados de conjuntura. Como os produtores vendem alimentos, a saúde financeira dos consumidores é muito importante. Um país com renda média em queda vende menos alimentos, consome menos. Um país com uma taxa de câmbio elevada, como o Brasil, tem insumos importados mais caros. O papel é levar as relações dos indicadores com a vida ano campo. O agro tem seu desempenho muito atrelado ao ambiente econômico em que está inserido.
Há diferença de atuação em relação a outras áreas?
Acho que o trabalho do economista é o mesmo em qualquer setor: aplica as teorias econômicas e orienta para as melhores decisões econômicas e financeiras. Mas o agro tem uma diferença em relação a outros segmentos. Há uma carência muito grande desse tipo de profissional, tem mais oportunidades. E o diferencial do economista do agro do vem da experiência. O tempo te dá muitas habilidades, principalmente no Estado, onde há muitas culturas e pecuárias.
Que características são importantes para atuar no agro?
Ser dinâmico e se readaptar, porque o ambiente econômico muda o tempo todo. Às vezes, a gente faz uma projeção de algum modelo econométrico, visualiza um desempenho para o setor e alguma variável acontece, como a pandemia. E isso afetará todas as expectativas. Também precisa ser muito informado, não só sobre aspectos econômicos, mas políticos e do andamento da safra, para entender e antecipar impactos que podem acontecer. O mais importante é entender o setor, as demandas e os desafios. É impossível propor soluções sem conhecer a natureza do ambiente. Outro ponto é conseguir comunicar bem o impacto que todas variáveis econômicas têm na vida do produtor rural.
Dados nem sempre são positivos. Como lidar com estatísticas negativas?
Nosso papel é comunicar a realidade, o que enxergamos nos números, independentemente de ser negativo ou positivo. E é importante dar alternativas que ajudem a contornar a situação. Ao vislumbrar os primeiros sinais ou antecipar alguma coisa ruim, fazemos um esforço para disseminar a informação o mais rápido possível. A gente precisa mostrar soluções, orientar. Mesmo nas safras boas, reforçamos a necessidade de estar preparado financeiramente para enfrentar problemas climáticos. E quando acontecem, tentamos auxiliar na solução. Informamos o que aparece nos números, tentando antecipar, trazer junto uma solução.
Como ajudar na gestão dos efeitos da estiagem no Estado?
Podemos auxiliar o produtor a tomar boas decisões, para minimizar o impacto das perdas na receita. Seja identificando o momento de venda ou junto a instituições financeiras. Importante ressaltar que o acompanhamento do economista é talvez mais relevante nos anos bons. O produtor quebra em ano bom, porque é quando tem dinheiro em caixa e toma decisões de investimentos. Nesses anos, o papel do economista é ajudar nessa tomada de decisões, avaliando o risco e o retorno. Isso faz com que o produtor continue investindo no negócio, mas de maneira racional, se expondo menos a riscos e, ficando mais preparado para os momentos críticos.