A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
A responsabilidade e a logística para abastecer a principal central de alimentos do Estado é “uma ginástica diária”, mas também motivo de orgulho para o produtor e permissionário da Central de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa) André Fernando D'Agostini. Dando continuidade à atividade iniciada pelo pai há cerca de 30 anos, ele toca a tarefa diária de trazer vegetais da Serra para Porto Alegre, comandando o negócio familiar com outros dois irmãos e mais 60 funcionários da Hortigranjeiros D'Agostini Ltda.
Antes de pegar a estrada e iniciar mais um desses trajetos, D'Agostini contou à coluna que o caminho que o alimento percorre até chegar aos módulos da Ceasa ou, mais adiante, à prateleira do supermercado, envolve um cronograma extenso de embalo, viagens e trabalho que começam bem antes do sol nascer. Confira:
Como começou a relação com a Ceasa?
Começou com o meu pai, que está fechando 80 anos e se aposentou. Eu iniciei em 1997. Começamos entregando para algumas redes de supermercado e assim fomos pegando clientes, alguns que já atendemos há 30 anos. O meu pai iniciou por volta de 1993 ou 1994. Nós somos da Serra, e na época o pessoal daqui montava as cargas, passava em quatro ou cinco propriedades, carregava o caminhão em poucas pessoas e partia para Porto Alegre. As viagens eram de madrugada, o pessoal dormia na própria Ceasa, no piso duro do chão, tinha bastante mosquito... que tem até hoje (risos). Começou assim e viemos expandindo. Naquela época, ainda não tínhamos caminhão. Depois, compramos e passamos a dormir no caminhão mesmo, já com sofá-cama, um pouquinho mais confortável (risos). Temos dois módulos no Pavilhão dos Produtores, o 11F e o 12F, e temos também um box da empresa.
Como é a logística para abastecer a maior central do Estado?
Aos domingos, viajamos no final do dia. Pousamos na Ceasa e começamos o serviço às 2h. Começamos separando as cargas e depois, pelas 4h, é liberado para fazer as entregas. Na terça-feira, voltamos à Ceasa na parte da manhã para atender ao pessoal que vem mais de longe. Na quarta, quinta e na sexta-feira estamos lá de novo. Vamos praticamente todos os dias, mas na madrugada é só no domingo. De terça em diante, a Ceasa abre o Pavilhão dos Produtores à tarde, mas pela manhã já temos entregas, porque também temos as encomendas diretas para mercado.
Como é o fluxo na central? Com que quantidades trabalham?
Hoje, vendemos na Ceasa uns cinco caminhões por semana, mais ou menos. Isso dá em média 4 mil volumes (caixas). Nos especializamos em cenoura, beterraba, brócolis e rabanete. São os nossos carros-chefes. Não é um mix muito grande, mas focamos na produção voltada para isso. Vendemos para supermercados, redes, e também para aquela clientela que vai para comprar uma caixinha ou meia dúzia de brócolis. Procuramos atender da mesma maneira, não importa o tamanho do cliente. Temos o prazer de atender indiferente da quantidade. É bom porque o cliente é o que move.
E o que não vai para a Ceasa?
Mandamos para supermercados em Santa Catarina, Mato Grosso, alguma coisa para o Paraná e Brasília também. Essa parte para fora é feita por frete. Entramos bastante forte nessas regiões mais distantes com os brócolis. Produzimos na região de São Francisco de Paula, que tem um clima melhor para essa produção, levamos para Caxias do Sul onde temos o nosso packing, embalamos, e aí sim mandamos para fora. Temos crescido bastante no volume de brócolis nos últimos anos, é um item que começou devagar e hoje tem cotação bem boa. É consumido bastante nessas regiões quentes, como Mato Grosso e Brasília. E tendo um produto bom, vende bem.
Qual o seu papel na condução do negócio?
Somos uma empresa familiar composta por três irmãos. O Gilnei é o responsável pela lavoura em São Francisco, o Marcos cuida do packing, do embalo e do carregamento em Caxias, e eu administro a parte financeira, de compra e venda, de contato com os clientes.
Como é o desafio de fornecer alimentos em grande quantidade?
É uma ginástica diária, mas a primeira coisa é que a gente gosta do que faz, isso já é a base. E depois a gente tem anos de prática, muita parceria com funcionários, com clientes, que são o que seguram a casa em pé. Mas é um desafio.
E como se sentem fornecendo alimentos para destinos tão diversos?
Às vezes, o pessoal manda foto do Mato Grosso com os nossos brócolis e isso é tão gratificante. A gente gosta disso. Claro que tem os desafios, a parte boa e a difícil, mas está funcionando e muito graças à Ceasa. A Ceasa é uma vitrine. Se o produtor está presente ali, vai aparecer o cliente que compra uma caixinha, duas, vai ter aquele cliente que compra mais... é um lugar de contato com as pessoas e de termômetro do mercado.
Qual o tamanho da produção?
São cerca de 70 hectares de brócolis, outros 80 de cenoura e uns 40 de beterraba. De rabanete é uma quantidade pequena, perto de 5 hectares. Também temos alguns testes com soja e milho, que é uma tendência do mercado, já que no nosso produto principal não tivemos a valorização que teve o grão. É um mercado que é novidade pra nós, mas é interessante porque reduz mão de obra, custo por hectare e hoje em dia está muito valorizado.
O que é feito com o que sobra?
Hoje, as sobras são mais reguladas porque levamos a quantidade que vende. O frete se torna muito caro, então, colocar uma mercadoria que não se sabe se vai vender é um problema. Levamos os pedidos controlados para a clientela que atendemos sempre. Às vezes sobra, inclusive no packing, mas temos a opção de levar para a indústria em Pelotas ou Santa Catarina, por exemplo.
A rastreabilidade nos vegetais é uma das suas marcas. Como estão inovando a produção?
Temos isso (a rastreabilidade) há bastante tempo, acho que faz mais de 10 anos. A primeira parte que começou a exigir foi Santa Catarina, um Estado que desenvolveu antes a rastreabilidade, então já ficamos por dentro... fizemos todo o processo dentro da lavoura. Hoje, temos agrônomos que acompanham e funcionários que estão se formando na área. É algo que nos preocupamos muito. Toda mercadoria que passa por nós é rastreada. Também fazemos análise na Ceasa para ver se o que estamos fazendo está dando certo. Fornecemos para muitos clientes, então a coisa tem que estar rigorosamente funcionando certinho.