A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Depois de 33 anos atuando dentro da indústria diretamente com produção animal, a agrônoma gaúcha Sandra Bonaspetti fez um movimento ousado de carreira e resolveu se arriscar “do outro lado da mesa”, como diz. Hoje ocupando o posto de diretora da área técnica de aves na América do Sul de uma multinacional de insumos para nutrição e saúde animal, a Phibro, sua função é fazer o desenvolvimento de produtos junto a clientes e universidades – usando boa parte da expertise que adquiriu passando pelas maiores empresas produtoras de alimentos que atuam no Brasil. Sua bagagem inclui a antiga Avipal, a Perdigão (que hoje é parte da BRF), e ainda a Seara, da JBS.
– O Brasil tem uma produção fantástica na área de frangos e suínos, é um universo muito grande. Quando se vai para outro sistema de trabalho, a gente não domina tudo. Esse incômodo de não saber tudo é o que me moveu – conta.
Conheça mais sobre a sua trajetória e mudança de posição na entrevista abaixo:
Como foi a virada de chave na sua carreira?
Apesar de eu estar sempre focada na área de alimentação, eu conhecia muito de produção porque trabalhava muito a campo. Todo mundo falava: essa experiência está restrita à indústria que você trabalha. E eu estava querendo mais desafios. É uma área muito dinâmica, de muita inovação. Mas eu tinha vontade de trabalhar de uma maneira diferente. Queria trabalhar na expertise que eu tenho, mas com outra abordagem. Passei um ano refletindo sobre isso e decidi romper os laços com a indústria num primeiro momento, e comecei a fazer consultoria. Passei a conhecer as demais empresas de produção do Brasil. E o Brasil tem uma produção fantástica na área de frangos e suínos, é um universo muito grande. Gostei de poder ajudar outras empresas, outros profissionais, tem muitos jovens nas empresas e enxerguei um valor grande em poder ajudar. O convite da Phibro me balançou porque abre a gama de atuação. E o que eu vou fazer hoje é exatamente o que fazia como consultora, o contato com ciência e tecnologia, mas com uma grande empresa por trás.
Você é diretora global de Marketing e Serviços Técnicos para Avicultura. O que isso quer dizer?
Eu tenho a missão de desenvolver tecnicamente a aplicação dos produtos da Phibro. A minha responsabilidade é a América do Sul. Minha missão é entender o produto, fazer pesquisa com animais e em universidades, fazer palestras sobre o tema, visitar os clientes e ver como se encaixaria o produto, como ajudaria a melhorar os resultados e a saúde dos animais. Minha função é estritamente técnica. Eu trabalho na área de Marketing porque ela engloba o serviço técnico. Mas minha função é desenvolver produtos, aplicação desses produtos e dar consultoria ao cliente.
Onde entra o marketing no seu trabalho?
Nessas empresas que vendem produtos, o marketing é o mais importante. Quando vai desenvolver um produto, pode desenvolver cientificamente, que é o que eu faço, mas como vai levar ao conhecimento do cliente este produto? Não adianta eu pegar um estudo científico e mandar por e-mail. O marketing faz toda a comunicação da ciência, da efetividade do produto aos clientes.
Que atividades fazem parte do seu trabalho?
Neste primeiro mês, eu tive de entrar em contato com universidades que fizeram experimentos científicos com produtos. Reviso os experimentos, escrevo o artigo científico que vai ser publicado deste experimento junto com os professores das universidades, monto palestras e dou apoio à equipe técnica. São treinamentos tanto do cliente quanto das equipes internas da Phibro.
Quais os desafios da avicultura?
O principal desafio para o Brasil e o mundo é o custo elevado, porque as principais commodities tiveram alta de custo. A ração perfaz 70% do custo do frango vivo na plataforma do frigorífico, então é o item mais importante. O que fazer? Não se consegue reduzir o preço de uma commodity no mercado, não está na nossa mão isso. O desafio é melhorar a eficiência de produção, que se traduz na conversão alimentar. Quantos quilos de ração se transformam em um quilo de frango vivo. Melhorando este indicador técnico, melhora o custo de produção, já que o preço de tonelada de ração não se pode mexer. Eficiência alimentar é a palavra. Fazemos isso com níveis nutricionais adequados, mas também com a saúde dos animais.
O que aconselha para encarar uma mudança de carreira?
O mais importante é o profissional gostar de se desafiar. Quando a gente gosta de desafios, a gente corre atrás de coisas novas, que sejam difíceis e que se batalhe para buscar soluções. O que me moveu foi fazer coisas diferentes, ter de voltar a estudar. Quando vamos para outro sistema de trabalho, a gente não domina tudo. Esse incômodo de não saber tudo é o que me moveu. Agora estou trabalhando com a equipe de marketing, e, imagine, eu sou uma profissional técnica, eu sou agrônoma. Esse desafio de ter que estudar uma área nova eu gosto demais. Isso faz a gente crescer: não ter medo de desafio e buscar coisas novas.