A médica veterinária Ana Doralina Menezes tem “no sangue” a vocação para atuar na pecuária de corte. Natural de Santana do Livramento, na Fronteira, é a quinta geração da família na atividade e a primeira mulher a assumir como gerente do selo carne angus certificada, da associação brasileira de criadores de animais da raça. Tem a tarefa de supervisionar todo o programa que concede ao produto final a identificação que é sinônimo de qualidade.
A presença marcante no setor rendeu a ela a inclusão na lista das 100 mulheres mais poderosas do agro da revista Forbes. Conheça um pouco da história dessa profissional.
A genética tem um papel importante na produção da carne. No seu caso, a profissão também veio no “DNA”?
Minha relação com o agro vem de família, sou a quinta geração da família envolvida com pecuária. Nasci nesse meio e sou resultado dele. Sempre vivi muito tempo na estância, que fica no distrito de São Diogo. A gente demora duas horas para chegar lá. Meu pai era cabanheiro de ovinos e de bovinos, mas principalmente de ovinos, foi presidente de entidades. Dele trago muito do olhar de zootecnia, produção, genética e exposições. Minhas primeiras lembranças da infância são em volta das ovelhas.
E em que momento optou pela carreira no setor?
Me lembro muito de uma Expointer, quando eu era pequena ainda. Chegou uma hora que pensei “quero ficar aqui pra sempre, viver disso”. E ali decidi que minha profissão ia ser ligada ao agronegócio, que seria veterinária. A gente vibrava quando chegavam as exposições. Cada um tinha que apresentar um borrego, uma borrega, um animal, e a gente se preparava e curtia muito esses momentos. Esse amor pelas coisas do campo vem de família. O agronegócio está na nossa veia. E eu sou a que mais optou, digamos assim, dentro de todos os filhos, em seguir diretamente na área.
E como foi o caminho até a chegada na gerência do programa de carne certificada angus?
É uma responsabilidade que me foi passada em 2019, da qual tenho muito orgulho. Porque é um projeto que acompanho desde o início. Me formei em 2002 em Medicina Veterinária e fui para a Nova Zelândia, para uma pós-graduação. Quando voltei, eu retornei já foi pra começar o programa Carne Angus. Entrei para organizar a primeira desossa do programa, esse foi meu desafio. Hoje coordenar o programa é algo muito desafiador. Temos um reconhecimento nacional da certificação e uma demanda muito grande por esse produto. Meu papel é conseguir fazer essa interface nos diferentes elos do programa. Ou seja, com o consumidor, a indústria e o varejo, que faz essa articulação diretamente com o consumidor, e com os produtores.
Como é a tua rotina?
Comecei como certificadora de desossa, depois passei para supervisora da unidade, regional, coordenadora do Rio Grande do Sul, da Região Sul e, em 2019, para a gerência nacional. Isso traz facilidade porque conheço o dia a dia, a rotina. Lembrando que hoje estamos em 11 Estados, em 40 unidades, com 23 parceiros, o que nos gera uma série de necessidade de articulação com a indústria. Pedidos que chegam, lotes que têm de ser avaliados, demandas para ajudar a solucionar. Diariamente, trabalho junto aos nossos parceiros, com a equipe. Somos 57 técnicos diretamente e diariamente envolvidos na certificação, além da interface com outras entidades, porque temos representatividade muito grande. E tem várias atividades internas e externas: e eventos, palestras.
Que características são necessárias para atuar no mercado de carnes premium?
O profissional tem de ser articulado, estar atento. O mercado de carnes é muito volátil. Temos de estar informados e capacitados. Diria que a capacitação é essencial para ter o entendimento do que realmente é o diferencial, traz essa crítica. Há necessidade de estar sempre buscando o entendimento do que é o momento, o que contempla o cenário vivido. Então, visão organizacional é muito importante. Essa visão ampla com o entendimento do que é a qualidade dentro de cada uma dessas etapas até o prato do consumidor. Esse profissional tem que ter esse entendimento e essa capacidade de articulação.
Que dica daria para alguém quer buscar carreira no agro e, mais especificamente, no setor de carnes?
Conhecimento e experiência, as duas coisas aliadas. As mulheres, especialmente, têm uma capacidade muito importante de articulação, de captação da informação. Elas articulam, harmonizam, buscam congregar de maneira positiva e têm feito isso de forma importante dentro do agronegócio. O profissional para trabalhar no setor de carnes tem de ter o entendimento, porque a proteína é resultado de uma cadeia produtiva. Há inúmeros pontos que influenciam dentro dessa produção, nutrição, sanidade, genética, a parte industrial, bem-estar animal, controle de qualidade.