A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Esqueça aquela ideia do bancário sentado em frente ao computador cotando números. A rotina do gerente de crédito rural vai muito além do escritório, com agenda extensa de visitas a campo, conhecendo o dia a dia do produtor rural e as suas necessidades. Há quase uma década, esse é o papel de Baltazar Cardoso, gerente de agronegócio do Banrisul em Passo Fundo, no norte do Estado. De família de pequenos agricultores, juntou a bagagem que veio de casa com o técnico agrícola e a graduação em Agronomia para levar informação a quem está na lida. Com gosto pelo que faz, conta que o brilho nos olhos do produtor ao melhorar a sua produção é de uma satisfação enorme.
– É algo indescritível perceber que você está contribuindo – orgulha-se.
Conheça mais sobre a sua trajetória e rotina de trabalho:
O que faz um gerente de agronegócio? Como é a rotina?
Atuamos na prospecção de clientes, visitando produtores, revendas, entidades de classe, empresas ligadas ao agronegócio, e também no treinamento da rede de agências. Nossa função é principalmente externa. Aquele gerente de banco que atende ao cliente na agência e fica fixo nela... nossa função é totalmente o contrário disso. Montamos uma agenda na sexta-feira com as agências que vamos atender na próxima semana e qual vai ser a atividade. Montamos um roteiro para otimizar o tempo e organizar as visitas. Nossa função é totalmente à campo. Estar junto ao produtor rural e às agências levando informação aos clientes, divulgando as linhas de crédito e disseminando o nosso conhecimento no agro para auxiliar o produtor no que for possível.
Qual a importância do crédito para viabilizar a produção rural?
Não somente o crédito em si, mas o que acompanha o crédito. Pensando em um pequeno produtor, além de conseguir fazer um custeio para implantar sua lavoura, custear as despesas com adubação, defensivo, semente, ou a própria colheita, ele tem o seguro agrícola, com o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). Se acaso vier a ocorrer uma quebra de safra, existe esse programa para conseguir além de pagar o financiamento e não ficar com uma dívida ativa, ter também uma garantia de renda mínima, sendo cliente Pronaf, que é para sobreviver durante o ano. Isso é muito importante para o pequeno produtor. Além de ter um seguro para a sua lavoura, caso ocorra uma estiagem, uma frustração de safra, uma perda por granizo, existe essa garantia de renda mínima para conseguir manter a família até o próximo ano e ter uma nova lavoura.
Tem um papel de sustentabilidade da produção...
Com certeza. Além disso, proporciona que o produtor possa investir em melhorias. Uma reforma na residência, que hoje tem uma linha específica para isso. É melhorar a qualidade de vida do produtor rural, investir em tecnologia, comprar uma máquina que pode gerar melhor resultado, melhor eficiência, e com isso maior lucratividade para a propriedade. Isso com certeza também vai gerar qualidade de vida para o homem do campo.
Quais os maiores desafios de quem, como você, atua na intermediação entre o banco e o produtor?
O maior desafio é conciliar. Como as linhas de crédito rural são de recursos subsidiados, há um regramento específico para operar isso. Você tem que levar esse conhecimento para o cliente, sobre como ele pode fazer, onde deve aplicar o recurso que está tomando, e tentar atender ele o mais breve possível. Porque para o produtor quanto antes conseguir financiar o seu custeio, mais rápido ele consegue antecipar a compra dos insumos, com melhor preço.
Como a tua experiência de vida rural contribui para o trabalho? E qual a importância dessa vivência para quem quer exercer a mesma atividade?
É um diferencial. A atividade agrícola é bem peculiar. Você tem que entender as necessidades do cliente, o que ele cultiva, quais são as dificuldades que ele enfrenta ou o que ele pode gerar. Isso você só vai conseguir com o tempo. Estudei a técnica agropecuária, que é, digamos, a parte mais prática de uma propriedade, depois fiz Agronomia buscando a parte mais técnica. Mas quando você chega no campo e realmente coloca a mão na massa, consegue entender melhor como funciona uma propriedade rural. Não diria que é uma exigência ter uma formação na área, mas é importante se dedicar àquilo que está fazendo, buscar informações. E temos meios para isso, como a Emater e a Embrapa, que são referências. O produtor rural é uma pessoa muito simples, muito humilde. Muitas vezes, eles nos passam o conhecimento prático que não temos. Quem quer entrar nesse ramo, o conselho é buscar conhecimento e informação. Qualquer pessoa pode entrar no agro e desenvolver um bom trabalho.
Crédito normalmente está associado a sonhos e conquistas. Lembras de alguma história emocionante que o teu trabalho proporcionou?
Com o banco, nós participamos também das feiras de agronegócio, como Expointer e Expodireto. Muitas vezes nós chamamos o cliente para assinar o contrato na feira para ele contar a história dele. Sempre buscamos trazer o pequeno produtor porque é onde o crédito gera um impacto maior, de mudança na qualidade de vida. Quando você financia um trator para um cliente, ele consegue melhorar a sua atividade e percebe que isso gera uma renda, facilita o dia a dia... você vê o brilho nos olhos. Ou quando consegue implementar em uma atividade do cliente que trabalha com bovinos de leite, por exemplo, e ele consegue comprar uma ordenhadeira melhor, um resfriador, ou colocar energia solar na propriedade. Isso diminui o custo, vira uma prática sustentável, é uma alegria enorme para o cliente. E a gente acompanha isso na propriedade, cada safra visitamos o cliente duas, três vezes. Conseguimos acompanhar a evolução, ver que está girando receita e que o produtor está podendo fazer novos investimentos e está crescendo... isso é uma satisfação enorme.