Uma das presenças marcantes entre as delegações estrangeiras no parque da Expodireto, em Não-Me-Toque, é a da embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária de Gana, Abena Pokua Adompim Busia. Na abertura da feira, ela fez questão de agradecer o apoio recebido do Brasil para o desenvolvimento da produção agrícola em seu país, dando destaque especial a um projeto que teve início em 2017.
Na entrevista a seguir, Abena detalha que apoio foi esse:
Você falou sobre coisas muito interessantes sobre como a cooperação entre o Brasil e o seu país tem ajudado a desenvolver a agricultura. Que tipo de ações o Brasil tem feito no seu país e que tem ajudado?
Bem, eu estava me referindo a um programa muito específico que o Brasil tinha, que começou logo antes de eu chegar. Eu acho que começou em 2017 e durou até o ano passado. Foi uma extensão do Programa Mais Alimento, onde vários países podíam competir em três jeitos por um programa que ajudaria na segurança alimentar do seu país. Em Gana, nós estávamos trabalhando em várias coisas, principalmente o "greening da Savana". Plantar comida no equivalente ao seu Cerrado. Apoiávamos os produtores nas suas áreas agricultáveis, grandes e menores lavouras. Você tinha que competir em três etapas e de vários países que começaram o programa, só Gana terminou. Gana foi o único que conseguiu completar com sucesso as três etapas. Tem sido muito sucesso apoiar a transformação, especialmente na cultura da soja. O deserto do Saara está crescendo e países do Oeste estão lutando para conter isso e plantar no "Cerrado". E o Brasil ajudou muito Gana nesse programa. E eu sussurrei para o ministro da Agricultura que eles precisam continuar!
Qual é o tipo de ajuda que vocês procuram no Brasil?
Tudo. O que faz os brasileiros importantes para Gana e o Oeste da África, ou mesmo a África como um todo, é que de todos os países líderes na agricultura, o Brasil é o único que tem um clima tropical. Também porque se você olhar para os continentes, nós temos paisagens geográficas parecidas. E o Brasil tem sido diligente nos últimos 16 anos em uma política de desenvolvimento agrícola e — bem impressionante — independente do regime político. O que significa para a gente é que vocês tem investido em coisas como a Embrapa, a pesquisa em transformação de culturas, a mudança de estação de plantio, a rotação de cultura, como você maximiza a rotação de culturas sem destruir o solo. Isso significa que para todas as nossas perguntas vocês podem nos dar as suas melhores práticas. E nos ajudar a adaptar para o nosso terreno. Vocês desenvolveram os seus instrumentos, as suas tecnologias, usam seus drones de modo a plantar com mais precisão. Tudo isso nos ajuda.
Como você descreve o tipo de agricultura que você tem no seu país e qual a meta?
Um país do tamanho de Gana, que tem o tamanho de um dos seus menores Estados e a população de uma das suas maiores cidades, não pode competir com Brasil. Quero dizer, tem escalas econômicas aí. Nós estamos tentando alimentar o nosso próprio povo. Gana é um produtor agrícola. Pelos últimos cem anos a gente produziu metade do coco do mundo. Essa é a nossa base. Agora nós estamos produzindo óleo. Mas nós temos uma explosão populacional — 50% da nossa população está abaixo dos 30 anos. Quando eu era criança, nós éramos autossuficientes em arroz. Hoje, nós importamos a maior parte do nosso arroz porque falhamos em seguir com a cultura, mas também por causa dessa explosão populacional e da mudança de gosto, em que hoje se come mais arroz. Nós exportamos comida para os nossos vizinhos, mas nós temos um problema de conservação e transporte. Então nós precisamos de ajuda com a perecidade da nossa comida. Nós precisamos de ajuda para sabermos como abastecer alguns tipos de comida fora da época. Isso são algumas das coisas que nós estamos procurando. Às vezes o problema não esta na produção, mas na pós-produção. Porque tem países ao redor de nós que desesperadamente querem o nosso óleo de soja. Eles estão vindo pegar porque nós não conseguimos processar. Nós não temos indústrias suficientes.
Há quanto tempo está aqui?
Há cinco anos, esse é o meu último ano. É a minha primeira vez na feira.
Qual foi a impressão que você tinha do país quando recém chegou e qual a impressão que você tem agora?
Eu estava muito empolgada e honrada em vir para o Brasil. Eu não sou de carreira diplomata. Eu sou acadêmica. A minha área é a diáspora africana e estudos culturais. E nós sempre tivemos uma paixão com o Brasil em termos da sua cultura. Eu aprendi muito aqui. Todo mundo sabe que o Brasil é um produtor agrícola. Eu não sabia nada além disso. Eu nunca tinha pensado sobre isso, não é o meu campo. Eu poderia falar muito mais dos poetas brasileiros do que dos produtores de soja. Eu cresci sabendo que existia muito café no Brasil e era isso. Era um conhecimento superficial do papel da agricultura no Brasil. Então eu estou muito impressionada com tudo. Eu estou impressionada por conhecer a política da agricultura. Com a transformação do conhecimento. No último ano eu estive em Gana, vi alguns fazendeiros que adotaram técnicas e tecnologias brasileiras. Foi incrível estar no Estado de Goias e depois chegar em Accra (cidade de Gana) e ver a mesma coisa. Isso faz tudo mais tangível. Em termos de agricultura, tudo o que eu aprendi fora da superficialidade da relação pública foi nos últimos cinco anos.
*Colaborou Carolina Pastl