Diante do quadro de estiagem prolongada no Rio Grande do Sul, a dúvida em relação às perdas da safra era somente quanto ao tamanho. O "estrago" causado pelo tempo seco é considerável quando se olha para a expectativa inicial de colheita, como mostram os dados apresentados pela Emater na Expodireto Cotrijal. "Escondida" nesses percentuais significativos está uma redução que afeta diretamente um item importante que vai à mesa: o arroz.
A cultura que tem no Rio Grande do Sul o maior produtor nacional, respondendo por 70% do total do país, vem perdendo espaço no cultivo. E, mesmo sendo praticamente 100% irrigada, foi igualmente afetada pela falta de chuva. Em relação ao início do plantio, a perda é "pequena" se comparada a grãos como soja e milho: 2,91% no volume, estimado em 6,88 milhões de toneladas.
Quando a comparação é com a safra passada, no entanto, a coisa muda de figura. A colheita estimada agora para o cereal representa queda de 10,64% sobre a anterior. E isso que, no ano passado, a estiagem também afetou as culturas de verão. Sob essa comparação, a redução projetada para a do arroz só perde para a do feijão segunda safra, que deve encolher 36,96%.
— É um ponto de atenção importante — reforçou Claudinei Baldissera, diretor técnico da Emater.
O resultado do arroz traz consigo efeitos pontuais do tempo seco, mas também carrega fatores que vão além do clima, explica Alexandre Velho, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz-RS):
— Isso é reflexo de uma conjunção de fatores: baixa rentabilidade, alto custo e produtores indo para outras culturas, mais rentáveis. Hoje, o produtor precisaria colher pelo menos 200 sacas por hectare para ter um retorno e isso não é a realidade do Estado.
Dados específicos do arroz são acompanhados mais de perto pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), que ainda não divulgou o balanço final. Velho observa que um dos grandes problemas para a cultura, neste ciclo, foi a falta de água para irrigação na Fronteira Oeste, região que produz 30% da colheita gaúcha.
O que indica uma potencial redução de área colhida. Uma das maiores barragens da Fronteira Oeste, a de Sanchuri, em Uruguaiana, "está praticamente sem água", reforça o dirigente.
— Esses números escancaram a falta de um olhar para este setor, tanto do governo estadual quanto do federal — lamentou o presidente da Federarroz-RS.