Tanto no campo quanto no balcão, o preço da carne bovina no Rio Grande do Sul ficou diferente em 2022. Fechou com valores inferiores aos do início do ano, em um recuo que teve proporções maiores para o produtor. Conforme dados do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro) da UFRGS, o pecuarista teve uma perda real de 23% no valor do boi gordo, ao mesmo tempo que oscustos cresceram na casa de 20%. Para o consumidor, a redução alcançou 11,7% na média dos cortes pesquisados pelo núcleo e 5% no corte padrão.
— Para 2023, a tendência é de manutenção dos preços para o produtor. Para o consumidor, não vejo sinal de redução maior, se chegou a um piso. O que não sabemos é como estará a situação econômica do país — pondera Júlio Barcellos, coordenador do Nespro.
Mas e o explica esse cenário observado principalmente ao longo do segundo semestre do ano passado? São vários ingredientes. A começar pelo recuo expressivo no apetite interno. Ladislau Böes, presidente do Sindicato das Indústrias de Carne do RS (Sicadergs), aponta redução de 25% no consumo de carne. E essa demanda enfraquecida impôs o ritmo de ociosidade dos frigoríficos em 2022.
Barcellos acrescenta outro fator: a entrada, em grande volume, de carne do Centro-Oeste e Norte, a preços mais baixos do que os do RS.
— Trouxeram inclusive gado em pé, de Rondônia, e carcaça para desossar no RS — completa o coordenador do Nespro.
Essa competitividade de preços reflete uma produtividade maior, que foi combinada a um fator externo: a redução do apetite chinês. Esses Estados são os principais fornecedores para o pais asiático.
— Enfrentamos concorrência forte da carne vinda de outros Estado. Com a baixa do poder aquisitivo, o consumidor começou a olhar muito para preços. Se chegava a ter diferença de R$ 5 pelo quilo. A indústria gaúcha teve de fazer esse movimento de baixa para ser competitiva — explica Böes.
Pesou também um movimento diferente da safra. Resultado, aponta Barcellos, do alongamento do inverno, que impactou o plantio de soja:
— E nas áreas com pecuária onde entra soja (no verão) também se alongou o uso das pastagens até final de outubro, início de novembro. Houve um represamento do gado gordo mais para o final do ano, quando o preço normalmente subiria.
A preocupação do setor é com o impacto dessa queda sobre os investimentos na atividade.
No balcão
- O preço médio do quilo de entrecot, corte padrão da pesquisa do Nespro, no varejo passou de R$ 67 em janeiro de 2021 para R$ 80 em dezembro. Em julho, ficou em R$ 81
- Em janeiro deste ano, estava em R$ 79. Chegou a subir para R$ 84 em julho e fechou dezembro em R$ 73
- No segundo semestre de 2022, a queda no boi gordo foi mais acentuada do que no valor da carne. Isso fez com que o varejo tivesse maior poder de compra frente a indústria e ao produtor, pondera Júlio Barcellos, coordenador do Nespro