A projeção de aumento pontual na demanda em razão do Dia dos Pais ainda deve manter, podendo até “salgar”, os preços de carne bovina no varejo, apesar da já registrada queda no valor do boi gordo. Levantamento do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro)/UFRGS aponta média semanal de R$ 10,76 o quilo, a menor em 12 meses (valor real). Coordenador do Nespro, Júlio Barcellos frisa que o recuo no preço do boi ocorre no momento de entressafra, quando a oferta diminui, e a tendência é de alta.
— Para esta época do ano, teria de estar melhor (o preço) — reforça Barcellos.
Entre os fatores que ajudam a explicar a queda, segundo o coordenador, está a entrada de carne do Centro-Oeste — cerca de 40% do consumido no Estado.
Presidente do Sindicato da Indústria de Carnes do RS (Sicadergs), Ronei Lauxen diz que a vinda de carne de outros Estados foi a alternativa encontrada para a manutenção das empresas no mercado, em razão da diferença de preço, que estava maior no RS:
— A gente via carne vindo de lá com preços muito inferiores.
O mercado, acrescenta Lauxen, apresenta tendência de baixa no valor pago ao produtor, pela combinação de “entrada da safra e consumo reduzido”.
Condição que tem trazido um grande impacto ao setor como um todo. Estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indica que o consumo per capita no Brasil deve somar 24,8 quilos em 2022, o menor em 26 anos.
— Além da perda do poder aquisitivo, a carne continua cara na gôndola, e isso afasta quem está na dúvida — diz Barcellos, ao pontuar mudanças no comportamento de consumo.
Coordenador da Comissão de Pecuária da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Pedro Piffero pontua que, além da entrada de gado de outras partes do Brasil e do baixo consumo interno, o preço ao produtor é pressionado pela retração nas exportações. Dados da Abrafrigo mostram que julho registrou o segundo mês seguido de redução nos embarques totais.
No curtíssimo prazo, o Dia dos Pais — e os auxílios financeiros — tendem a segurar preços. Depois, deve ficar diferente, estima Antonio Cesa Longo, presidente da Associação Gaúcha de Supermercado (Agas).