A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Em clima de Natal, quando é tempo de fazer pedidos e realizar desejos, a coluna buscou saber de lideranças-chave quais seriam os melhores presentes para o setor agropecuário. Fizeram as suas listas o governador reeleito Eduardo Leite, o vice-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Pedro Estevão, e também representantes de cultivos que vêm se destacando no Rio Grande do Sul, como a noz-pecan e a olivicultura.
É claro que a ajuda do clima é sempre um desejo quando se fala de uma “indústria a céu aberto”, mas o setor também faz pedidos pontuais para o desenvolvimento das suas atividades, entre eles investimentos em irrigação, crédito acessível para máquinas agrícolas, novas formas de financiamento, abertura à exportação e fiscalização de produtos que vêm de fora do Brasil para garantir competitividade do produto gaúcho no mercado nacional.
A seguir, veja o que dizem as “cartinhas” de pedidos do setor para este Natal:
Eduardo Leite , governador do Rio Grande do Sul
“Com absoluta prioridade, está avançarmos nas políticas de irrigação. Isso significa garantirmos recursos no orçamento para viabilizar programas de açudagem e de reservação de água e financiamento para reduzir o custo da implementação nas lavouras. Também está a execução das barragens que o Estado vem fazendo, como Jaguari e Taquarembó, garantindo que as obras evoluam.
Além de outras tantas pautas que queremos avançar no próximo ano, como a extensão de energia trifásica no campo, a conectividade digital com internet de boa qualidade, a ampliação da assistência da Emater junto aos produtores e, claro, a logística para melhorar a qualidade das estradas e o funcionamento do Porto do Rio Grande e dos de águas internas visando redução de custos para escoamento de produção e ganho de novos mercados. Finalizaria, ainda, com a ênfase que o governo deve dar à promoção comercial da produção agropecuária, especialmente aproveitando que o Estado se tornou zona livre de febre aftosa sem vacinação”.
Pedro Estevão, vice-presidente da Associação Brasileira de Agronegócio (Abag)
“Provavelmente, haveria muitos pedidos distintos, afinal a agricultura é um empreendimento multifacetado com grandes desafios. Como sou da área de máquinas, meu pedido é um custo de capital para financiamento de máquinas agrícolas compatível com a atividade. Atualmente, para comprar máquinas financiadas, os juros giram em torno de 16% ao ano, o que muitos economistas e agricultores julgam um exagero, considerando que normalmente se compra para pagar em sete anos a juros fixos. A conta realmente fica cara.
Nos últimos cinco anos, saltamos de uma área plantada de grãos de 61,7 milhões de hectares para 77,3 milhões de hectares na safra 22/23: um crescimento expressivo de 15,6 milhões de hectares. Sabemos que na agricultura moderna não há produção competitiva sem máquinas e nestes últimos anos a indústria brasileira se empenhou e investiu para oferecer o maquinário necessário. Com os atuais juros, podemos ter uma interrupção neste ciclo virtuoso do nosso agronegócio”.
Eduardo Basso, presidente do Instituto Brasileiro de Pecanicultura (IBPecan)
“Primeiro, a abertura do mercado chinês para a noz pecan com casca do Brasil. Este presente geraria uma grande alegria ao setor, liberando energias para novos investimentos. Concluímos, há mais de ano, todos os questionamentos do governo chinês. A China importa mais de 40 mil toneladas/ano de nozes e estimamos que no próximo ano o Brasil terá disponibilidade para exportar cerca de 3 mil toneladas.
Segundo, novas fontes de financiamento. Que os fundos de investimentos que buscam o desmatamento zero e a neutralidade do carbono de suas operações invistam na construção de florestas frutíferas de nozes pecans. São investimentos de longo prazo em pomares centenários. Um futuro livre de fumaça, com práticas ambientais, sociais e de governança. Por fim, que as secretarias da Agricultura, Educação e instituições de crédito e investidores financiassem a construção de um centro de excelência para produção de pecans e oliveiras. Seja na preparação dos recursos humanos, seja na geração de novas tecnologias.”
Renato Fernandes, presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva)
“O grande entrave para o processo de demanda e de venda do nosso produto passa pelo setor dos importados. Temos uma concorrência desleal em relação à qualidade e preços praticados. Aqui no Rio Grande do Sul e no Brasil, trabalhamos com o azeite extravirgem e temos um parecer do Ministério da Agricultura que fala que 92% dos azeites no varejo não são extravirgens, ou seja, estão mal classificados. O nosso grande desejo para o próximo ano é que haja a continuidade do controle da fiscalização e a intensificação por meio do Ministério quanto à classificação. Isso deve começar a acontecer a partir de fevereiro, através do painel sensorial montado aqui no RS.
Somente com esse painel se consegue diferenciar o azeite virgem do extravirgem. Quimicamente, todo passam por classificação, mas, sensorialmente, por aroma e sabor, somente com especialistas para identificar um azeite sem defeitos. Essa classificação é fundamental, tanto pelo aspecto econômico por promover uma concorrência leal (o que realmente for extravirgem não será vendido no preço tão baixo que se vem praticando hoje) quanto por se tratar de saúde pública. O nosso grande presente para 2023 é que seja intensificado esse controle”.