Chegando ao segundo dia, os bloqueios nas rodovias estaduais e federais já trazem efeitos para o funcionamento de indústrias e a distribuição e o abastecimento de alimentos e flores no Rio Grande do Sul. O cenário é considerado mais preocupante para as indústrias do setor lácteo, em razão da perecibilidade do leite, e do varejo de flores, que tem esta quarta-feira (2), Dia dos Finados, como uma data importante de comercialização.
No caso dos laticínios, por enquanto, o problema está concentrado nas indústrias. Os produtores têm conseguido entregar a matéria-prima. Até esta terça-feira (01), a região mais afetada era de de Ijuí, onde se concentram empresas como a Lactalis e a CCGL.
O secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do RS (Sindilat), Darlan Palharini, alertou para a urgência na liberação de caminhões tanque utilizados no transporte de leite cru, que coletam a matéria-prima nas propriedades rurais. Isso porque o leite pode ficar até 24 horas, no máximo 48 horas, no caminhão, refrigerado.
— Se não resolvermos logo, teremos produtor rural perdendo leite — acrescentou, lembrando que o setor já vem atravessando dificuldades de rentabilidade ao longo de 2022.
Outros produtos podem ser afetados
Frigoríficos também enfrentam problemas. De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no RS (Sicadergs), Ladislau Böes, há empresas que suspenderam abates e entregas de carne bovina desde segunda-feira (31).
— Se as interdições se estenderem por mais dois ou três dias, haverá linhas de produtos que não conseguirão ser produzidas — completou o dirigente.
Na Central de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa), não é diferente. Ailton Machado, presidente da Ceasa no RS, afirma que os bloqueios nas estradas começaram a ser sentidos nesta terça-feira (1º):
— 50% dos clientes do interior não vieram para a Ceasa em Porto Alegre..
As mobilizações podem causar atrasos nas entregas de frutas vindas do Nordeste, como mamão, melão, abacaxi e manga. As leguminosas adquiridas do Sudeste também podem faltar a partir desta quinta-feira (3).
Dono de um box na Ceasa, Sérgio di Salvo é um dos vários que demonstra preocupação:
— Tenho três cargas que estão na estrada hoje, vindo de Goiás, se elas não chegarem meu prejuízo é de R$300 mil.
A Frente Parlamentar da Agropecuária do Congresso Nacional emitiu nota contrária à paralisação das rodovias nesta terça-feira (1º). No texto, disse que “respeita o direito constitucional à manifestação, porém ressalta que o caminho das paralisações de nossas rodovias impacta diretamente os consumidores brasileiros, no possível desabastecimento e em toda a cadeia produtiva rural do país”.
*Colaborou Carolina Pastl e Yasmin Luz