A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Se na indústria automotiva o primeiro trimestre do ano encerrou com queda nas vendas, o cenário não teve o mesmo efeito na comercialização de máquinas agrícolas. Pelo menos é o que dizem as entidades que representam o setor, que ainda vêm certa estabilidade no Rio Grande do Sul, mesmo com uma estiagem no caminho.
Sem divulgar números oficiais do desempenho na arrancada do ano, Claudio Bier, presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers), avalia que o comportamento das vendas tem se mantido semelhante ao primeiro trimestre do ano passado, antes da escassez hídrica impactar fortemente os produtores gaúchos.
Na Expodireto, principal feira no Estado onde são anunciadas e comercializadas as últimas novidades em termos de máquinas e tecnologias para o campo, o setor celebrou bons resultados – a exposição encerrou com mais de R$ 4,9 bilhões em negócios sinalizados.
Os motivos para um resultado no mínimo empatado com o desempenho anterior vêm de fora. Para o dirigente, apesar da seca, os preços das commodities “reagiram mais ainda”, garantindo bom retorno ao produtor. Além disso, a situação no Centro-Oeste do país foi diferente das perdas registradas no Estado e, lá, “colheu-se muito bem”. Assim, o que não foi comercializado por aqui, foi repassado para fora do RS.
No Brasil, a projeção da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) é de que o setor tenha crescimento de 6% em 2022 sobre o ano passado, que já teve desempenho positivo de 24%. As vendas no Rio Grande do Sul devem pegar carona nesse cenário, já que o Estado concentra 60% da fabricação de máquinas e implementos, destaca o presidente da regional da Abimaq no RS, Hernane Cauduro.
As perspectivas para o setor nos próximos meses são otimistas. O trigo, que vinha perdendo espaço entre as culturas cultivadas no Estado nos últimos anos, promete nova safra expressiva no inverno, embalado por recorde no ano passado. Ainda mais em meio ao conflito entre Rússia e Ucrânia, que tende a escassear a oferta do cereal no mundo e incentivar a produção em outros países.
Bier aponta ainda outro motivo para a manutenção dos investimentos em máquinas por parte dos agricultores. Diferentemente de secas anteriores, a escassez hídrica neste ciclo 2021/2022 pegou os produtores capitalizados pela última safra cheia.
– A grande maioria dos agricultores gaúchos tinha uma safra guardada. O agricultor não estava devendo para bancos e pôde investir – diz Bier.
A preocupação do setor, como em toda a cadeia produtiva, é com o que vem de fora em termos de peças e componentes, já que a pandemia e a guerra bagunçaram a logística internacional. No campo interno, outro fator que têm impactado a indústria desde o começo do ano, segundo Cauduro, é a operação-padrão da Receita Federal. O embaraço na alfândega, diz, tem provocado um adicional de 20 dias que causa atraso em toda a cadeia.
Alexandre Stucchi, diretor de vendas Massey Ferguson, que pertence à fabricante global AGCO, diz que o mercado de máquinas agrícolas ainda não conseguiu retomar a produção no mesmo ritmo das demandas devido aos impactos mundiais acarretados pela covid-19. A companhia tem no Rio Grande do Sul um importante polo de produção, com unidades em Canoas, Santa Rosa, Ibirubá, Passo Fundo e Marau.
A expectativa é de um cenário “mais equalizado” no decorrer do segundo semestre de 2022.
Estratégias para minimizar a dependência de componentes importados estão no radar da fabricante. Entre elas, o diretor cita a aposta no desenvolvimento da indústria local e incentivo à instalação de fornecedores líderes de tecnologia que não estão presentes no Brasil. “Nossa estratégia é ter um número otimizado de fornecedores nacionais e internacionais”, disse Stucchi à coluna. Apesar dos entraves, a avaliação é de um momento ainda positivo no setor.